Escolas mobilizam-se individualmente para manifestação de amanhã em frente ao Palácio de Belém

Manifestação sem sindicatos

Sem a capacidade logística e financeira dos sindicatos, os movimentos independentes de professores recorrem à Internet e à “carolice” para garantir a mobilização. Sempre inspirados pelos versos de Miguel Torga: “Não sei quantos seremos, mas que importa?! Um só que fosse, e já valia a pena”.

As despesas com a organização da manifestação do próximo sábado, em frente ao Palácio de Belém, são suportadas na íntegra pelos coordenadores dos movimentos. Dizem que as faixas e bandeiras são “artesanais” e “amadoras” e que tudo depende da “espontaneidade” dos professores.

“Não temos a máquina nem a logística própria dos sindicatos. Nem sequer temos capacidade financeira para alugar autocarros. Daí o lema ‘uma escola, um autocarro’, para serem os próprios professores escola a escola a organizarem-se”, explicou à Lusa Octávio Gonçalves, coordenador do movimento Promova, fundado em Vila Real.

Alugar um autocarro para uma deslocação a Lisboa a partir daquela cidade transmontana custa 800 a 900 euros, o que dá cerca de 20 euros a cada professor. A este valor há que juntar as despesas com a alimentação fora de casa. “Parte muito da vontade individual dos professores”.

Para a manifestação frente à residência oficial de Cavaco Silva, Mário Machaqueiro, da Associação de Professores em Defesa do Ensino, está a tratar da logística relacionada com a aparelhagem de som e respectivos técnicos. O orçamento deverá ultrapassar os 800 euros.

Por isso, organizam-se de forma a que as despesas sejam mínimas, já que a maior parte das vezes são sustentadas por um número reduzido de professores. Normalmente, pelos vários movimentos que subscrevem as iniciativas e outros professores que queiram fazer donativos, explica.

“Muito do que fazemos e das despesas que temos tem por detrás aquilo a que se chama carolice, mas que traduz bem o empenhamento individual das pessoas ligadas a estas iniciativas”, diz Machaqueiro.

O cartaz adoptado pelos movimentos para este protesto, por exemplo, foi desenhado por um professor do departamento de Expressões de uma escola, que tem um curso de Design Gráfico. Habitual colaborador das iniciativas dos professores independentes, não cobrou nada pelo trabalho.

Sem um espaço físico, os movimentos de professores funcionam sobretudo no mundo virtual. Encontram-se no Messenger e fazem dos blogues e e-mails a sua principal arma para fazer propaganda e mobilizar professores.

“Alguns de nós somos coordenadores de tecnologias da informação e comunicação, pelo que dominamos as ferramentas informáticas, construção de sites e blogues e nesta área até temos algum nível de organização”, sublinha Octávio Gonçalves.

Segundo o responsável, o Promova tem uma rede de contactos “diversificada e extraordinariamente bem montada”, pelo que em cinco minutos qualquer informação ou comunicado pode chegar “a cerca de 25 mil professores”, que depois reenviam para colegas.

“A articulação em rede que a Internet hoje propicia é um instrumento muito poderoso. Permite levar a nossa voz e o incentivo à mobilização muito mais longe e a muitos mais professores”, acrescenta Mário Machaqueiro.

Depois de manifestações no Marquês de Pombal e na Assembleia da República, os movimentos viram-se agora para o Palácio de Belém. A ideia é sensibilizar Cavaco Silva para o conflito e para os problemas que se vivem actualmente no sector.

“Esta conflitualidade arrasta-se já há tanto tempo que é necessária a intervenção do Presidente da República. O que está em causa é o ambiente nas escolas e a necessidade de os professores se concentrarem nas aprendizagens dos alunos, numa altura em que estamos a entrar numa fase decisiva do ano escolar”, defende Octávio Gonçalves.

Relativamente à adesão dos professores a esta iniciativa, Mário Machaqueiro espera entre 15 e 20 mil docentes, à semelhança dos números registados pelos movimentos a 15 de Novembro, isto se o “tempo der uma ajuda”.

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