COMENTÁRIO AO PROGRAMA DO PSD

Sem querermos ser exaustivos, iremos debruçar-nos apenas sobre os compromissos que esse programa estabelece no que respeita aos professores e à eventual ruptura com as políticas que, nesse domínio, marcaram o triste consulado do governo de José Sócrates.
Ora, há que reconhecer que o conteúdo concreto do programa de um partido que ambiciona ter responsabilidades governativas é, em relação aos professores, demasiado vago e omisso. No tocante à avaliação do desempenho, o programa do PSD assume a suspensão do actual modelo – o que já é positivo –, mas não revela os princípios orientadores fundamentais, limitando-se a referir a diferenciação das classificações pelo mérito e remetendo para «os estudos já efectuados por organizações internacionais». Se por tais estudos se subentende o famoso relatório da OCDE, que já aqui comentámos, forçoso é admitir que o modelo de avaliação defendido pelo PSD não rompe com o essencial da ideologia que comanda o modelo imposto pela equipa de Maria de Lurdes Rodrigues.
Já que falamos de avaliação, seria importante que o PSD esclarecesse se e como irá validar e valorizar as classificações de “mérito” decorrentes do processo de avaliação ainda em curso que, como todos sabemos, foi uma verdadeira farsa. Por outro lado, importaria ainda saber que medidas concretas aponta o PSD no sentido de se conseguir uma real e efectiva estabilização profissional dos docentes portugueses, nomeadamente dos professores contratados e QZP’s, que ficaram fora dos quadros e que continuam a ser utilizados como mão-de-obra barata numa inaceitável situação de precariedade.
Mais preocupante é, no entanto, a ambiguidade que rodeia as palavras referentes ao outro compromisso do programa do PSD: a revisão do ECD. Os autores desse programa afirmam:
«Reveremos o Estatuto da Carreira Docente, nomeadamente no respeitante ao regime de progressão na carreira, corrigindo as injustiças do modelo vigente e abolindo a divisão, nos termos actuais, na carreira docente.»
Acontece que a expressão «nos termos actuais» não é de molde a deixar-nos tranquilos, pois ela abre a porta para que se mantenha uma divisão na carreira docente, ainda que noutros termos diferentes dos actuais. Na verdade, não é referida, de forma concreta, a extinção da categoria de professor titular e seria importante que esta questão fosse clara e inequivocamente esclarecida pelo PSD.

Os partidos que insistirem em não compreender isto estarão a contribuir para prolongar um conflito político com os professores que em nada beneficia o ensino e a Escola Pública.
Outros motivos de preocupação prendem-se com a ausência de uma posição explícita sobre a questão da municipalização do ensino e sobre o carácter nacional/regional do concurso de professores. Sabe-se que o PSD, a par de outros partidos, se inclina para estes métodos de colocação dos docentes, os quais abrem caminho para a plena instalação de interesses locais e de clientelas partidárias no interior das escolas.
Grave é também o facto de o programa do PSD ser omisso no que concerne ao modelo de administração escolar, depreendendo-se que o formato actual, centralista, autoritário e antidemocrático se poderá manter debaixo de uma governação do partido de Manuela Ferreira Leite.
Todos estes aspectos constituem, para nós, fonte de preocupação e um sinal inquietante de que, contrariamente ao que sustentam o Ramiro Marques e os nossos colegas e amigos do PROmova, o programa do PSD só muito parcialmente se aproxima das exigências dos professores consignadas no Compromisso Educação.
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
QUE FAZER?
PROVA PÚBLICA DE ACESSO À CATEGORIA DE PROFESSOR TITULAR – AS MANOBRAS E PROVOCAÇÕES DO ME CONTINUAM! A NOSSA RESPOSTA É UM ROTUNDO NÃO!
Como já vem sendo habitual nos períodos de férias, situação que se agrava este ano, dado o actual contexto político-eleitoral, que pode levar ao fim da divisão da carreira (uma das questões centrais da nossa luta), o ME, via DGRHE, apostando claramente num eventual avolumar de situações de facto consumado que venham a dificultar a sua inversão, por parte do próximo governo, e numa atitude de baixa política, “lançando o barro à parede para ver se cola”, está a enviar para as escolas a seguinte informação:
Exmo. (a) Sr. (a)
Director (a)
Na sequência do Decreto-Lei n.º 104/2008, de 24 de Junho, informamos que a partir de hoje se encontrará disponível o formulário electrónico para candidatura e upload do trabalho, da prova pública de acesso à categoria de professor titular.
Solicita-se assim que informe todos os docentes do Agrupamento ou Escola não agrupada que reúnem os requisitos exigidos para tal.
Informa-se ainda que após a entrada dos requerimentos electrónicos, os dados dos candidatos ficarão disponíveis para validação das respectivas escolas.
As várias etapas deste processo, bem como a operacionalização do mesmo, constam da Nota Informativa, a disponibilizar na página electrónica da DGRHE.
Com os melhores cumprimentos,
A DGRHE
Mesmo conhecendo o esclarecimento da FENPROF, de 30 de Julho, a APEDE, numa atitude de prudente alerta e total coerência com as posições que sempre assumiu, lembrando que deste ME tudo se pode esperar, e deixando claro que desta vez não haverá desculpas, por falta de informação ou conhecimento das consequências (pois todos já sabemos a finalidade das políticas educativas deste governo e o seu carácter perverso e iníquo), vem afirmar claramente que a resposta daqueles a quem se dirige este “convite” envenenado, só pode ser um digno e rotundo NÃO!!! A APEDE não discute sequer a questão da existência de mais ou menos vagas para aqueles que forem aprovados nesta prova pública, porque o que está verdadeiramente em causa é a divisão da carreira e quanto mais professores concorrerem agora (seja lá qual for a justificação, argumento ou objectivo escolhidos) mais difícil será acabar com essa divisão iníqua. Os milhares de professores que exprimiram nas ruas a sua indignação, afirmando bem alto “Categoria há só uma, Professor e mais nenhuma”, saberão manter a sua coerência e não irão agora, seguramente, deixar-se iludir por “cantos de sereia”, logros e manobras em torno de um novo concurso para professor titular. Deverão dar, isso sim, com o seu NÃO! a mais esta jogada perversa e cirúrgica do ME, uma resposta firme e convicta a quem nos continua a agredir e provocar. E em Setembro, nas urnas e não só, voltaremos a mostrar que não nos rendemos, que não desistimos, que iremos vencer esta justíssima luta!