Por um novo movimento social
A experiência recente da luta dos professores trouxe à luz do dia um fenómeno novo, que deixou supreendidos todos aqueles que se habituaram à ideia de um Portugal sem sociedade civil activa, totalmente colonizado pelas ancilosadas organizações e instituições tradicionais: partidos políticos, sindicatos, órgãos de comunicação social.
Esse fenómeno foi a emergência de movimentos independentes, estruturados pelos professores de maneira auto-organizada, fora de qualquer enquadramento partidário e de qualquer agenda sindical.
Movimentos que surgiram precisamente para tentar responder à insatisfação provocada por essas organizações tradicionais naqueles que elas deviam, supostamente, representar.
O futuro e a permanência desses movimentos é, por ora, incerto. E essa incerteza faz parte do seu código genético. Nada de surpreendente (e nada de dramático) em quem se constituiu contra as piores tendências da institucionalização – com todas as tentações que elas envolvem.
Acontece que, no momento actual, a experiência dos movimentos independentes poderia (e deveria) frutificar noutras direcções.
Começam a desenhar-se condições para o aparecimento de um (ou de mais do que um) movimento capaz de transcender a esfera limitada de um grupo profissional preciso e que, em articulação com pessoas de várias proveniências, se possa constituir como um pólo de referência para as lutas sociais necessárias do futuro.
Um movimento cívico que, sem querer substituir-se aos partidos e aos sindicatos, mas também sem se subordinar às suas lógicas, possa pressionar, pelo exemplo das suas iniciativas, os sindicatos e outras organizações laborais a fazer mais e melhor pela defesa e pelo aprofundamento dos direitos sociais, contra o «austeritarismo» que os governos europeus nos querem impor.
Uma das raízes possíveis para esse movimento é justamente a blogosfera. Nela existem já espaços de intervenção que, devidamente articulados entre si, poderiam lançar um movimento como esse. Tais espaços de intervenção têm vindo a formular alternativas no plano político e económico, sólidas e empiricamente fundamentadas, contra o modelo que os governantes-serventuários pretendem apresentar como uma fatalidade incontornável.
Os actores que actuam nesses espaços de reflexão precisam de operar uma transição fundamental:
passar do mundo virtual da blogosfera para o mundo material onde se encontram as pessoas de carne e osso. Pessoas que estão famintas de orientação. Pessoas que requerem, com urgência, os instrumentos teóricos e conceptuais que as façam compreender a situação actual e a forma mais consistente de a combater. Pessoas que querem também pensar e discutir as alternativas. Pessoas que necessitam de pluralismo no debate público como quem necessita de oxigénio mental.
A tudo isso poderá responder um novo movimento cívico, constituído à imagem dos movimentos independentes de professores, mas muito mais ambicioso e exigente.
Haverá alguém para dar o primeiro passo nessa direcção?
em 07/11/2010 em 12:45
Força! O primeiro passo terá de ser vosso! Dos movimentos e de todos aqueles que, na blogosfera, têm contribuído para a movimentação e esclarecimento dos professores. O segundo será, com certeza, nosso! O de milhares de professores que vos visitam diariamente e que, na sombra, têm ajudado a mostrar a força da vossa razão que é, afinal, nossa também! Os sindicatos estão ultrapassados, movem-se por interesses políticos, gerem as cadeiras do poder entre si e impossibilitam qualquer associado com novas ideias de lá chegar, negoceiam com o ME os seus próprios interesses em detrimento dos interesses da classe e da própria escola pública, são maus exemplos para a sociedade, não nos representam! Têm, ainda, alguma garantia de manter os sócios ( alguns) porque precisamos todos de ter protecção jurídica! É uma segurança da qual, nos tempos que correm, não podemos abdicar! O novo Movimento que a assegure de forma credível e não haverá razão para continuar a pagar quotas a sindicatos que abandonam os professores quando eles mais precisam! Deste lado, estarei, obviamente, disponível para ajudar a alicerçar essa nova força! Não percam muito mais tempo…
em 07/11/2010 em 17:31
Estou disponível para articular e discutir convosco um programa mínimo para um “novo movimento social”, como dizem.
Mas atenção, companheiros. É ilusão pensar que qualquer Movimento se pode substituir aos sindicatos e aos partidos políticos.
Os movimentos sociais têm o seu papel, como vimos nos últimos anos entre os professores, mas serão facilmente absorvidos em período de refluxo da luta social, como aconteceu no último ano.
“Os actores que actuam nesses espaços de reflexão precisam de operar uma transição fundamental: passar do mundo virtual da blogosfera para o mundo material onde se encontram as pessoas de carne e osso”.
Concordo em absoluto com esta afirmação. E acrescento: Precisam criar laços organizativos entre si e não deixar a sua intervenção ao sabor do espontaneísmo das massas que, deste modo, se tornam presas fáceis dos dirigentes sindicais e partidários tradicionais.
Força, companheiros. podemos romper este cerco.
Como sempre, conte comigo.
em 07/11/2010 em 17:42
Corrigindo:
Força, companheiros, podemos romper este cerco.
Como sempre, contem comigo.
em 07/11/2010 em 17:51
Não penso que esse movimento deva ser construído, penso que deve ser semeado. E as sementes só podem ser acções concretas sobre situações concretas vividas por outros grupos sociais além dos professores. A contra-reforma contra a res publica em curso nos últimos trinta anos não tem tido só Portugal como palco; nem os sistemas de avaliação anti-profissionais têm sido o único instrumento dessa contra-reforma, nem tido como alvo só os professores.
Precisamos de ver caso a caso que ajudas solidárias podemos dar a que grupos sociais. Há os movimentos de precários, há os movimentos de estudantes e de alunos, há os sindicatos independentes no sector privado, há os investigadores científicos em regime de bolsa de estudo, há os movimentos de intelectuais e artistas. Que ajuda concreta podemos dar, aqui e agora, a cada um desses grupos? A ajuda que eles nos podem dar é uma questão que pode ficar para mais tarde: o urgente, para já, é lançar pontes.
em 07/11/2010 em 18:50
Aqui deixo algumas pontes, caro José Luís:
Anulação dos cortes salariais e dos impostos sobre os trabalhadores, IVA e IRS.
Congelamento do pagamento da dívida externa. Impostos sobre as grandes fortunas.
Cobrança coerciva dos impostos dos capitalistas em dívida.
Impostos de 25%sobre os lucros financeiros. Fim dos benefícios fiscais ao capital.
Passagem de todos os contratados e a recibo verde a efectivos.
Obrigatoriedade de negociação com os trabalhadores através de contratação colectiva.
Aumento do salário mínimo e das reformas. Corte nos ordenados dos ministros, gestores e equiparados.
em 07/11/2010 em 19:02
Também estou lá! 🙂