CARTA ABERTA – MANIFESTO: POR UM NOVO MOVIMENTO SOCIAL
1 – O momento presente, em Portugal e na maior parte dos países europeus, é um dos mais graves que foram vividos nos últimos trinta anos.
2 – A crise económica, provocada pela acumulação de poder do capital financeiro, está a ser aproveitada para se impor uma reconfiguração total das relações sociais e dos equilíbrios que foram sendo construídos desde o final da Segunda Guerra Mundial. O Capital decidiu romper unilateralmente o «contrato social» que tinha sido estabelecido, no pós-guerra, com o Trabalho, destruindo paulatinamente todos os pilares do Estado-Providência: segurança social, pensões de reforma, pleno emprego, acesso universal ao ensino e aos cuidados de saúde – direitos que os trabalhadores haviam conquistado ao longo de lutas duríssimas.
3 – Se os trabalhadores não opuserem, desde já, uma resistência firme e eficaz a este ataque sem precedentes, a regressão poderá ser imparável, afectando não apenas os direitos sociais, mas o próprio exercício dos direitos cívicos e a democracia tal como tem sido entendida entre nós.
4 – Essa resistência tem de ser desenvolvida, portanto, em dois palcos simultâneos: o dos Estados nacionais e o das articulações transnacionais, pois o essencial do processo, económico e político, responsável pelo desmantelamento dos direitos sociais desenrola-se numa escala que transcende cada país.
5 – As actuais direcções sindicais dificilmente conseguem responder às exigências do novo cenário, marcado por uma conflitualidade radicalizada. Não o conseguem porque estão formatadas por décadas de «concertação social» orientada para disciplinar e conter a contestação laboral; e porque insistem em operar num nível essencialmente nacional, sem flexibilidade suficiente para promoverem as necessárias articulações entre os trabalhadores de diferentes países europeus.
6 – Sendo assim, uma parte fundamental dos combates futuros terá de passar por novos actores, nomeadamente por movimentos de cidadãos independentes, capazes de se organizar à margem das estruturas tradicionais, com determinação e imaginação suficiente para lançar formas de luta inéditas, incisivas e imprevisíveis, que façam doer no osso de quem nos explora.
7 – Em Portugal começam a desenhar-se condições para a emergência de um movimento (ou de vários) que ultrapasse a esfera limitada de um grupo profissional preciso e que, em articulação com pessoas de várias proveniências, se possa constituir como um pólo de referência para as lutas sociais que urge travar.
8 – Sem querer substituir-se aos partidos e aos sindicatos, mas também sem se subordinar às suas lógicas, esse novo movimento cívico poderá pressionar, pelo exemplo das suas iniciativas, os sindicatos e outras organizações laborais a fazer mais e melhor pela defesa e pelo aprofundamento dos direitos sociais, contra o aprofundamento das desigualdades que os governos europeus nos querem impor.
9 – Uma das raízes possíveis para esse movimento é justamente a blogosfera. Nela existem já espaços de intervenção que, devidamente articulados entre si, poderiam lançar um movimento como esse. Tais espaços têm vindo a formular alternativas no plano político e económico, sólidas e empiricamente fundamentadas. E elas constituem, aqui e agora, um inestimável património de crítica contra o modelo que os governantes-serventuários pretendem apresentar como uma fatalidade incontornável.
10 – Os actores que actuam nesses espaços de reflexão precisam apenas de operar uma transição fundamental: passar do mundo virtual da blogosfera para o mundo material onde se encontram as pessoas de carne e osso. Pessoas que estão famintas de orientação. Pessoas que requerem, com urgência, os instrumentos teóricos e conceptuais para interpretar a situação actual e para pensar a forma mais consistente de a combater. Pessoas que desejam também discutir alternativas. Pessoas que necessitam de pluralismo no debate público como quem necessita de oxigénio mental.
Por tudo isto, lançamos daqui um repto a todos aqueles, bloggers ou não, que se reconhecem nas ideias aqui expressas, para se juntarem a nós e afirmarem a sua disposição de contribuir para a génese desse novo movimento.
Indicamos aqui o endereço electrónico para o qual poderão enviar as vossas mensagens:
Posteriormente, serão marcados um local e uma hora onde nos poderemos reunir.
Tudo está em aberto. E tudo depende de nós (de vós).
em 10/11/2010 em 00:04
Estamos fartos de ouvir sempre oos mesmos!
Estamos fartos de estar de joelhos|
Estamos fartos de fingir que apenas é um problema português!
Estamos fartos de esquecimentos da origem e razões para este ataque da Economia à Política e à Cidadania!
Estamos fartos de ouvir o cidadão, o candidato e o P.R., num mesmo fato!
em 14/11/2010 em 11:19
[…] decalcado de iniciativas já conhecidas? A APEDE optou por esta segunda hipótese, apresentando um manifesto por um movimento social novo, numa espécie de lógica frentista alternativa. O MUP volatilizou-se, o PROmova enquistou-se e […]
em 14/11/2010 em 19:05
[…] Nuns dias vende-nos a inevitabilidade do roubo aos salários para acalmar os mercados (eufemismo para designar o capital financeiro improdutivo e especulativo), para noutros acenar com o papão da “insurreição dos descamisados” ao mesmo tempo que menoriza a luta sindical organizada, como se os sindicatos não passassem de uma espécie de “seguro do capital”. Essa é, de resto, a tese dos instigadores das revoltas individuais, dos promotores de ajuntamentos corporativos mais ou menos focalizados e dos arautos de novos movimentos sociais intersectoriais. […]
em 14/11/2010 em 19:32
tende juízo filhos…
em 16/11/2010 em 02:44
carlosmarques,
Não se incomode, vá doutrinar para outra paróquia, daqui não leva “esmolas”.