Cenários da partidocracia portuguesa – 2
Recentemente, a comunicação social começou a andar com Pedro Passos Coelho ao colo. É o tropismo habitual dos jornalistas-que-temos. Quando lhes cheira a poder, precipitam-se em manada. Coisa já vista com Sócrates, que em tempos idos, e por estranho que pareça, foi tido como político genial, cheio de vontades reformadoras e empenhadíssimo em pôr na ordem as malvadas corporações que bloqueiam o desenvolvimento deste país, as quais, como toda a gente sabe, não são encabeçadas pelos Mellos ou pelos Belmiros de Azevedo, mas sim…
… pelos professores, pois claro.
Que o digam os senhores que pontificam neste pilar do jornalismo português, dos primeiros a jurar a pés juntos pela genialidade de José Sócrates, dos últimos a descobrir-lhe a inépcia e, de novo, dos primeiros a afirmar a (futura) genialidade de Passos Coelho.
Mas não é de jornalistas, essa espécie cada vez mais necessitada de aspas, que queremos falar.
Neste “post” vamos deter-nos nessa outra metade do centrão partidocrático, a que é composta pelo PSD. Ou – como diz outro génio (infelizmente reconhecido apenas por ele próprio) da política nacional – a que é constituída pelo PPD-PSD.
No livro Os Donos de Portugal fica claro que o PSD é o partido preferido pelos grandes grupos empresariais e aquele que, de facto, melhor os serviu sempre que passou pelo poder governativo. Portanto, quando se diz que o PSD é um partido sem ideologia definida, tal não poderia estar mais longe da verdade. A sua ideologia pode não ser, de facto, doutrinariamente brilhante. Mas é bastante óbvia. Consiste ela em servir, de forma estratégica e fiel, os interesses do grande capital (ou da grande burguesia) deste país.
E como esse capital (ou essa burguesia) se caracteriza, no essencial, por parasitar as oportunidades fornecidas e garantidas pelo Estado, o PSD inscreve na sua ideologia duas velocidades em matéria de preservação da substância estatal: muito Estado para os ricos e poderosos; pouco Estado para os pobres e remediados.
Nada que se distinga do programa neoliberal, ainda que alguns abencerragens insistam em discernir uns laivos de social-democracia na linha de orientação de um partido que, por ignorância ou por confusão, quis baptizar-se de social-democrata.
Em tudo isto Passos Coelho é uma nota de rodapé: apenas mais do mesmo, talvez com uma pitadinha acrescida de agressividade anti-social, pois os tempos a isso estão propícios e o PS, de resto, já lhe aplainou consideravelmente o caminho.
Com efeito, é preciso ser-se muito ingénuo para se imaginar que o PSD de Passos Coelho estará disposto a mexer um átomo que seja no edifício laboriosamente construído das “reformas” socratinas. A redução brutal de salários na Função Pública já foi apresentada como um dado irreversível, e a direcção do PSD guardou, a esse respeito, um silêncio conivente. Aliás, o “novel” dirigente partidário apressou-se a acrescentar que algo de semelhante terá de ser feito nas pensões de reforma. E, contrariamente ao que imaginaram os incorrigíveis ingénuos, ele não se estava a referir às pensões multimilionárias dos gestores de empresas públicas.
Quanto ao sistema educativo e à situação dos professores, é quase tão certo como a chuva de Inverno que Passos Coelho não irá alterar significativamente o essencial dos mecanismos de coerção impostos às escolas, mecanismos plasmados no modelo de administração escolar e no modelo de avaliação do desempenho.
A única incógnita que Pedro Passos Coelho suscita é saber se ele vai mesmo conseguir levar o PSD a uma vitória eleitoral e, caso assim suceda, se ela será folgada ou se vai precisar da muleta do «partido do táxi» – actualmente convertido em partido do autocarro.
Mas, como dissemos em “post” anterior, esta incógnita é objectivamente irrelevante para o futuro deste país, já que partidos como o PSD serão sempre parte do problema e nunca parte da solução…
em 09/11/2010 em 11:04
A mais esta interessante análise só gostaria de acrescentar alguns pequenos detalhes. Não devemos esquecer que o futuro primeiro ministro deste malfadado país nunca fez realmente nada de importante na sua vida. Sempre foi um dependente dos aparelhos partidários. Sempre vegetou na sua órbita sem se notabilizar fosse pelo que fosse a não ser pela nulidade (o outro ainda fez umas casitas).Quanto a experiência estamos conversados. Quanto a ideias e estratégias, então a coisa ainda é mais desértica. Todos nos lembramos da sua brilhante visão de privatizar a C.G.D., o maior banco português, para beneficiar o povo, claro!! Mas a última é, quanto a mim das mais graves.Em relação às pensões e reformas teve o desplante de afirmar que NÂO HÁ DIREITOS ADQUIRIDOS!!! Palavras para quê? É mais um artista português…..
em 09/11/2010 em 11:23
Subscrevo, a solução para os nossos problemas devemos procurá-la
fora do “centrão” e deste Parlamento completamente rendido e vendido a Bruxelas.