Mais cenas da partidocracia portuguesa
Na desorientação geral que se apoderou dos principais actores desta tragicomédia em que se afundaram Governo e o PSD, eis que agora surge a tentação de desenterrar o chamado «bloco central», com o beneplácito ambivalente de Cavaco Silva, a par de tentativas patéticas de fazer transfusões de sangue para um morto.
O PS perdeu o rumo e o tino, não sabendo já a que estratégia de sobrevivência política há-de recorrer.
A isto ficou reduzido o «menino de ouro do PS». Habituado a governar para a propaganda, e nunca para o país, com uma arrogância autista que esteve, durante demasiado tempo, protegida e reforçada por uma comunicação social cúmplice (enquanto o «menino de ouro» se revelou útil para quem passa os cheques à venalidade “jornalística”), Sócrates não aguentaria muito tempo o confronto com uma realidade de vacas esqueléticas. Aquele género de realidade que nenhum fogo de artifício consegue iludir ou ocultar.
Agora já ninguém quer tocar no «menino de ouro». A sua presença tornou-se embaraçosa, e parece muito difícil que o homem tire da sua cartola um truque providencial que lhe permita manter-se agarradinho ao poder. No seu próprio partido já lhe farejam a sucessão. E o barco está mesmo a ir ao fundo.
Tudo isto seria hilariante se este naufrágio não estivesse associado ao colapso do país, ao aumento vertiginoso do desemprego, à destruição programada dos direitos sociais dos trabalhadores e dos grupos mais desfavorecidos.