Quantas vezes será necessário repetir isto?

O que está errado nesta análise? Uma das suas premissas de base: imaginar que o Partido Socialista, actualmente no poder, corresponde a uma «esquerda institucional». Contra esta ideia, há que soletrar devagarinho uma evidência:

O PS de Sócrates (ou de outro qualquer?) não é, nunca foi nem será um partido de esquerda.

Em grande medida, é a premissa da análise acima referida que está a paralisar os partidos à esquerda do PS e os sindicatos dominados pelo PCP. Todos partem do princípio de que, se o PS for afastado da governação em próximas eleições, o que vier a seguir será a catástrofe absoluta: um governo de direita do PSD sozinho ou em coligação com o CDS-PP.

Com base nesse pressuposto, o PCP, o Bloco de Esquerda e os sindicatos entendem que não convém agitar demasiado as águas da contestação social – fazer uma greve geral, sim, mas moderada e bem comportada -, de modo a não precipitar a queda do governo e a marcação de eleições antecipadas que poderiam colocar rapidamente a direita no poder.

Mas, que diabo:

Nós já temos um governo de direita. É o governo do PS, convertido, desde o início da «crise», em procurador dos interesses do grande capital financeiro e dos ditames de Angela Merkel. Um PS que, aliás, para o que diz respeito à redução dos direitos sociais e laborais, já está objectivamente coligado com o PSD.

Querem mais direita do que isto?

Se é esse o argumento para se conter ou moderar a contestação social, então os seus subscritores têm de puxar pela cabeça e procurar melhor, pois ele não resiste à mais elementar análise política.

3 thoughts on “Quantas vezes será necessário repetir isto?

  1. Caro Mário:
    Há muito que venho repetindo isso. Este PS nunca foi, verdadeiramente, um partido de esquerda. Na realidade, o PS “histórico” (de Mário Soares) nunca foi mais que o herdeiro do radicalismo republicano radical e maçónico, com raíz na pequena e média burguesia urbana e com o apoio de alguns trabalhadores dos serviços. É essa matriz que explica a fraca implantação sindical do partido: historicamente, o sindicalismo português foi anarco-sindicalista (até aos anos 30) e comunista (depois disso). A própria UGT resultou de um acordo entre o PS e o PSD e nunca penetrou no mundo operário. Ao contrário, os trabalhistas britânicos e holandeses e os sociais-democratas alemães e nórdicos, os socialistas franceses e belgas foram, na sua origem, partidos da classe operária e estiveram na vanguarda do movimento sindical nos seus paises. Por isso, o PS sempre se coligou com o centro-direita e foi incapaz de se ligar à esquerda.
    A tomada desses partidos por elementos afectos ao neoliberalismo (onde avultam Tony Blair e Gerard Schroeder), defensores de um pragmatismo cínico e sem princípios, foi rapidamente acompanhada pelo PS português,com a ascensão de Sócrates e da sua clique neoliberal.
    Neste momento, ter no governo Sócrates ou Passos Coelho é “igual ao litro”. Penso, aliás, que, no momento actual, até é preferível um governo de direita a um governo “socialista”. As mesmas medidas suscitarão a resistência de muitos que, hoje, ainda acreditam na caução de “esquerda” do PS. Não é por acaso que alguns grupos empresariais e finaceiros continuam a apostar nele.

  2. Se não fossem os rótulos -hoje em dia completamente ultrapassados- de esquerda ou direita, eu diria que este simulacro de governo que temos pertenceria à direita mais conservadora e retrógrada, com a agravante séria de tentar fazer passar a ideia de ser completamente o oposto a isso. No entanto, se fossem minimamente competentes, essa questão seria secundária. Não o são. No que me diz respeito, estou sinceramente farto da esquerda que temos; Da extrema esquerda para a esquerda “central” temos desde a demagogia social irrealista do bloco, a cristalização ideológica reveladora da mais evidente incapacidade de exercer o pensamento livre do PC e, finalmente, a submissão socretina aos grandes monopólios económicos da energia e das comunicações, passando pela construção civil. Preferia de longe, neste momento, ter um governo dito de direita que extirpasse esta gangrena socrática que vem destruindo paulatinamente a espinha dorsal desta -ainda-nação: a classe média.
    No entanto, houve ainda um grande numero de pessoas que votaram no engenheiro pinóquio, número elevado de mais para englobar apenas a clientela interessada em mamar da teta do estado. Por isso, talvez esses se desenganem mesmo quando isto bater bem no fundo, lá para meados de 2011…
    E já agora, uma vez que estes senhores prezam tanto o sector bancário, que tal esta sugestão de acção?

    http://jornal.publico.pt/noticia/29-11-2010/pode-cantona——————————————————————————————————————————-fazer-tremer–o-sistema-financeiro-20708230.htm

  3. Não percebo tanto desencanto… Afinal, não estamos perante o PS que abriu as portas do futuro a este triste e atrasado país? O aborto é já livre e gratuito (e assim continuará; qual crise, qual carapuça!?); Os homossexuais já podem casar (antes também podiam, mas enfim…); os putos têm todos aparelhos de última vaga (“telemóveis”, magalhães e tralha do género).
    Não percebo…

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