Para uma polémica que valha a pena (e, já agora, para lutar contra o modelo de avaliação) – 1
Por estes dias, a blogosfera dedicada à educação e à contestação das políticas governamentais para o ensino tem sido atravessada por uma polémica em torno das formas mais eficazes de combater o absurdo modelo de avaliação do desempenho. Uma polémica, infelizmente, demasiado inquinada por remoques e ataques pessoais. Não vamos deixar aqui os “links” para os “posts” que perfazem essa discussão, pois o nível da acrimónia envolvida é suficientemente deprimente e esclarecedor sobre o muito que se perdeu da frágil unidade que, apesar de tudo, se conseguiu construir no passado. Quando os mais lúcidos e combativos – e pode ser-se lúcido e combativo de muitas maneiras – perdem tempo a disparar uns sobre os outros em vez de virarem as armas contra o Ministério da Educação, está (quase) tudo dito. Os responsáveis do governo só se podem regozijar e aplaudir…
Se a forma desse debate não está a ser propriamente exaltante, já o seu conteúdo merece a maior atenção. Pois nele se joga um futuro possível para a resistência oferecida pelos professores às políticas ministeriais.
Alguém, num comentário a um dos “posts” da polémica, tocou no aspecto fulcral, quando disse que o problema reside no facto de os professores não estarem a ser capazes de chegar a um consenso sobre um plano de luta, minimamente eficaz e contundente, para combater o modelo de avaliação (e, claro está, tudo o que ele implica e que não vamos, de novo, resensear aqui).
Se nos permitem meter uma colherada na polémica, a nossa opinião é esta:
Por muito meritórias que sejam as posições individuais de contestação do modelo, efectuadas sob a forma de requerimentos de escusa por parte de colegas nomeados para a função de relatores, ou de outras formas situadas dentro do estrito limite da lei, esta mesma lei e os que a fazem aplicar dentro das escolas facilmente se encarregam de esvaziar esses requerimentos, limitando-se a indeferi-los. Como está a acontecer.
O caminho tem, pois, de ser outro.
Tem de ser, simultaneamente, radical, colectivo e assumidamente feito à revelia da lei vigente (ou seja, contra a lei). Três aspectos que, no quadro actual de desespero, apatia, oportunismo triste e conformismo que se vive nas escolas, parecem absolutamente utópicos.
E sê-lo-ão, de facto. Mas há que ser claro:
ou os professores vão por esse caminho, sendo capazes de (re)encontrar a unidade necessária para esse efeito, ou não vale a pena desfraldarem contestações que parecem muito bonitas num blog ou numa manifestação de rua, mas que de nada valem nas suas consequências práticas.
E não são essas que nos interessam e que nos deviam estar, desde já, a mobilizar?
(continua…)