Assim se vê a pobreza (de ideias) do PSD
O que começa a ser conhecido do pré-programa do PSD para a educação confirma a suspeita de que os crânios liberalóides que tomaram conta da direcção desse partido não primam pelo fulgor neuronal.
Como o Paulo Guinote mostra, as «ideias» (chamemos-lhes assim, à falta de expressão mais escatológica) do PSD para «reformar» o sistema educativo limitam-se ao mirífico projecto de converter as escolas em empresas. Tendo em conta que a grande maioria das empresas deste país são a mediocridade medonha que se sabe, nem ousamos prever que «gestores» escolares elas nos irão propiciar… Pegando num dos pontos do dito pré-programa, está-se mesmo a ver que o «sector empresarial» – particularmente o que se alimenta das benesses do Estado – anda mortinho por se envolver na Educação superior. Depois de inaugurar mais um hipermercado, o Belmiro de Azevedo nem pensa noutra coisa. Fica a salivar só com a perspectiva de voltar à universidade.
Também achamos graça à «ideia» de alargar às universidades o conceito actualmente aplicado nos cursos profissionais do secundário (com os sucessos retumbantes que toda a gente reconhece): uns tantos meses numa empresa, uns tantos meses na universidade. Já não bastava o modelo de Bolonha para abastardar o que ainda restava da ideia original de universidade…
De resto, todo o pré-programa tresanda a um economicismo bacoco, incapaz de conceber a existência de outros saberes que não os imediatamente rentáveis e instrumentalizáveis pela «coisa económica». Uma pessoa treme só de tentar penetrar nas cabecinhas que congeminam tais textos…
E depois há tiradas onde o risível se junta ao irrisório. Como esta: «Aumentar drasticamente o número de licenciados e doutorados». Na sequência do nosso “post” anterior, apetece perguntar: para quê? Para acrescentar mais uns diplomados aos muitos que neste momento se encontram «à rasca»? Se quiserem ver até que ponto estão vazias as cabecinhas que lançaram este “slogan”, é só lerem este artigo de Paul Krugman – que também responde a algumas questões que levantámos no “post” anterior.
Quando a periferia tenta imitar as receitas – já de si inquinadas – do centro, o resultado só pode ser grotesco. Os nossos liberais periféricos imaginam que vivem num país que transporta em si todas as potencialidades da «Velha Albion». Mas como, infelizmente, vivem na merdaleja, o programa que propõem não cola na realidade portuguesa nem com todo o cuspo do mundo.
Entretanto, e conforme o Octávio denuncia aqui, onde o PSD podia fazer alguma diferença prefere enredar-se em ambiguidades e meias-tintas.
Feitas as contas, com o partido de Passos Coelho, em matéria de sistema educativo, ficamos com o pior do que já existe – onde o PSD não tenciona alterar uma vírgula – e com o mal que ainda não temos.
Alguém falou em alternativa?
em 11/03/2011 em 02:17
Concordo com análise. Não confio no PSD.
As atitudes que tem mostrado ( inclusivamente hoje no parlamento Pedro Duarte acabou por deixar entre linhas a possibilidade da continuidade da reforma curricular promovida pela ME ) não permitirá que obtenha futuramente votos dos professores.
Enquanto o PSD for camaleão, então nunca terá a simpatia dos professores do nosso país.
em 11/03/2011 em 09:43
Eu direi mesmo mais: com «ideias» destas o PSD está a trabalhar afincadamente para não ganhar as próximas eleições, antecipadas ou não.
em 11/03/2011 em 10:42
Mordaz e acutilante, como sempre.
Pensava eu ingenuamente que o Santana Castilho ainda podia estar metido num projecto alternativo ligado ao PSD… Assim não vamos lá. Ou o PSD tem juizinho e rodeia-se de uma elite competente, a qual terá que ser encontrada fora das hostes do núcleo duro, ou então vamos ter outro mandato do Sócrates.
Abraço,
PG
em 13/03/2011 em 10:03
Excelente texto!
Sócrates tem que sair de lá dê por onde der, mas depois disso há que lutar afincadamente pelo “depois”. Claro propostas deste teor são inaceitáveis!
Beijinhos para todos
Cristina