E agora?
Há tempos atrás, formulámos esta pergunta a propósito da greve geral, sabendo que, na conjuntura actual, as formas de luta têm necessariamente de se revestir de uma continuidade que as torne consequentes – e não meros protestos fugazes que não deixem marcas.
A mesma pergunta se pode formular hoje, perante o número impressionante daqueles que se manifestaram. Número tanto mais impressionante, e tanto mais significativo, quando se trata de manifestações que não tiveram, por detrás, nenhuma organização formal. Para quem insiste no carácter anestesiado da sociedade civil portuguesa, este é um facto que obriga a (re)pensar muitas análises.
É certo que determinadas organizações tentaram, às claras e às escuras, cavalgar a onda. Mas a onda nasceu sem elas. Uma lição da qual muitos deverão extrair as devidas ilações.
As pessoas estão fartas de um poder político apostado em lhes minar sistematicamente os direitos conquistados em 1974-75 (os anos do tão vilipendiado PREC, pois claro). E não é certamente por acaso que, hoje, muita gente retomou a palavra de ordem que, no 1.º de Maio de 1974, o povo que encheu as ruas foi buscar ao Chile de Allende: O povo unido jamais será vencido.
Resta saber se as pessoas que gritaram essa frase estão dispostas a extrair dela todas as suas consequências.
Porque, dito tudo isto (que é o óbvio), há que pensar para além das euforias do imediato.
Estas manifestações foram convocadas como veículos de um protesto catártico. E muitos portugueses aproveitaram-nas para descarregar a revolta que lhes mora no espírito. Mas agora há que começar a pensar.
Há que pensar em como fornecer a esse sentimento de revolta as condições para que daí saia um processo de luta continuado, firme e consistente.
Há que articular esse sentimento com um pensamento político minimamente (ou maximamente) estruturado.
Há que propor alternativas que nos façam sair efectivamente do buraco da precariedade, da degradação das condições de vida, da destruição dos direitos sociais e laborais.
Há que perceber que essas alternativas não se situam nos programas políticos do centrão (PS, PSD e CDS) que nos anda a desgovernar há décadas. O pior que poderia acontecer seria que, decorridas as manifestações de hoje, as pessoas aceitassem a abertura de uma crise político-partidária que levasse a uma mera mudança de ciclo eleitoral, por meio da qual regressassem ao poder os mesmos do costume. Isto é: os principais responsáveis, em Portugal, pela crise em que estamos mergulhados. E que estão nos partidos acima referidos.
Há que perceber que a construção das alternativas tem de ser uma tarefa colectiva, muito para além de organizações formais (partidos e sindicatos) totalmente descredibilizadas pela sua cumplicidade com a ordem política que as pessoas recusaram, hoje, nas ruas.
Há que construir o(s) movimento(s) que, nos locais de trabalho e fora deles, possa(m) lutar, com força e determinação, pela preservação dos direitos sociais para todos.
E todos significa: todas as gerações, as de hoje e as de amanhã.
em 13/03/2011 em 10:30
Mais um texto feliz!
E embora Sócrates tenha que sair obrigatoriamente, é preciso muito mais do que um novo ciclo eleitoral. E todos somos precisos, sim!
Não me revejo num sistema político que olhe para as alternativas do país entre esquerda e direita como se uns ou outros tivessem as soluções para o país e como se uns ou outros fossem donos da verdade ou das respostas. A resposta que precisamos está muito acima das opções político-partidárias, os partidos políticos deviam ter a grandeza de reconhecer o lugar da sua intervenção para a construção global. Todos os partidos políticos são necessários, mas cada um tem que perceber o lugar que tem na construção do país.
Deus nos livre de um governo de esquerda ou de um governo de direita porque só conseguiremos construir Portugal quando as ditas “esquerda” e “direita” (designações com as quais não me identifico) são complementares.
Beijinhos
em 13/03/2011 em 10:32
(correcção)
Mais um texto feliz!
E embora Sócrates tenha que sair obrigatoriamente, é preciso muito mais do que um novo ciclo eleitoral. E todos somos precisos, sim!
Não me revejo num sistema político que olhe para as alternativas do país entre esquerda e direita como se uns ou outros tivessem as soluções para o país e como se uns ou outros fossem donos da verdade ou das respostas. A resposta que precisamos está muito acima das opções político-partidárias, os partidos políticos deviam ter a grandeza de reconhecer o lugar da sua intervenção para a construção global. Todos os partidos políticos são necessários, mas cada um tem que perceber o lugar que tem na construção do país.
Deus nos livre de um governo de esquerda ou de um governo de direita porque só conseguiremos construir Portugal quando as ditas “esquerda” e “direita” (designações com as quais não me identifico) forem complementares.
Beijinhos
em 13/03/2011 em 12:30
Um beijinho para ti, Cristina. Embora eu pense que as posições de esquerda e de direita estão longe de ser indiferentes ou relegáveis para o mesmo saco. A discussão das mesmas não passa, contudo, por confiná-las ao espectro político-partidário que temos. Num certo sentido, porque os partidos com assento parlamentar optaram, à esquerda e à direita, por reduzir o espaço público às suas estratégias de sobrevivência eleitoral e de multiplicação dos lugares de deputado – com todas as benesses que isso representa para a partidocracia -, todos eles são cúmplices na degradação social e política a que chegámos. Ainda que a distribuição das responsabilidades seja, obviamente, muito diferente. Os partidos do chamado «centrão», que se têm alternado no poder governativo, são os primeiros responsáveis pelas escolhas políticas e económicas desastrosas que nos conduziram ao buraco em que estamos metidos. E essa responsabilidade, há que dizê-lo de forma muito clara, remonta ao período em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro. Nessa altura, quando os dinheiros europeus começaram a chover sobre este país, poder-se-ia ter feito uma escolha estratégica orientada para a valorização do saber e das remunerações correspondentes, para a produção de bens transacionáveis de elevado valor acrescentado, para uma menor dependência do exterior. O Prof. Cavaco, em lugar disso, fez as escolhas todas erradas: entregou largos sectores da economia aos grupos monopolistas do costume, que andam a sugar este país há mais de um século sem qualquer vantagem para o Zé Povinho, apostou nos baixos salários como factor de competitividade e, portanto, numa economia de indústrias de baixo investimento tecnológico e de escassa inovação, consentiu no desmantelamento quase total da nossa agricultura, estimulou o crescimento desmesurado da indústria do betão e da construção civil, encorajou o crescimento paralelo de um sector bancário assente no endividamento das famílias para aquisição de casa própria, abrindo assim caminho para o aumento exponencial da bolha do imobiliário. Cavaco Silva fez tudo o que não se devia fazer, e definiu a matriz que moldou todas as governações posteriores – Sócrates incluído. É por isso que, sem deixar de considerar que os governos de Sócrates têm sido um desastre, não posso alinhar nos que pretendem ver nele o único e o maior culpado da nossa tragédia actual. E não penso que a substituição de Sócrates por um Passos Coelho altere seja o que for num sentido minimamente positivo. Basta ver o programa neoliberal-imbecilóide que Passos Coelho traz na manga.
É por isso, Cristina, que as escolhas políticas, entre a direita e a esquerda, não são indiferentes.
em 13/03/2011 em 21:14
Olá Mário! Obrigada pelo beijinho e aqui fica outro!
Quanto a Cavaco e a Sócrates estamos de acordo embora pense que nunca tivemos ninguém tão mau quanto Sócrates, a todos os níveis. Quanto a Pedro Passos Coelho nunca achei que fosse o “rosto” que precisamos e até penso que foi pouco inteligente na apresentação de propostas, embora eu esperasse que, enquanto o mais provável primeiro-ministro,tivesse outra postura – se mais não fosse, por inteligência política. Sócrates não deixa um bom legado a ninguém, a situação é caótica, e essa realidade representa para mim um necessidade reforçada de cooperação e de mobilização de todos – todos os partidos e todos os cidadãos.
Quando pensamos na vida do dia-a-dia e nas decisões que temos que tomar, não pensamos se somos de esquerda ou de direita, pensamos na resposta mais adequada, tentando dar resposta à origem do problema e às necessidades que cada situação possa envolver, e para isso o governo precisa de estar rodeado de pessoas bem preparadas nas áreas que representam, o que sabemos não estar a acontecer. Aliás, isso nem contava, com este governo e o anterior pensava-se em alguém que tivesse competência em termos de fazer o que o “chefe” mandava.
E é isso que quem governar tem que fazer – rodear-se de pessoas competentes para dar resposta aos problemas, por um lado e, por outro, perceber que não pode governar sozinho, seja quem for que seja eleito. Penso que o problema não está entre esquerda e direita mas nas pessoas que fazem determinadas coisas, que querem poder, em vez de querer servir o pais, que querem o sucesso pessoal em vez do sucesso do país e que querem demasiado “ter”. E, infelizmente, crise de pessoas temos em todos os partidos políticos. Aliás, pela forma como muitas vezes o PCP e o BE fizeram oposição, me questionei sobre qual seria a sua atitude se fossem governo… E aqui é que está o problema…
Mesmo não confinando a “direita” e a “esquerda” ao espectro político-partidário, o que me tenho apercebido é que quando o que está em causa são as respostas efectivas, aos problemas e à construção de uma sociedade que queira ver respeitados os direitos humanos, as diferenças não são tão grandes quanto possa parecer à primeira vista.
Era para aí que devíamos caminhar, como quando a oposição se uniu para não fazer passar a reorganização curricular. Pode-se questionar que motivos levaram os partidos a tomar esta decisão mas o certo é que foi quando se juntaram que se conseguiu.
Nesta fase tão difícil era isso que os partidos políticos deviam fazer – unir-se em torno do bem comum.
em 13/03/2011 em 12:51
E quanto ao círculo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, nicles?
em 13/03/2011 em 15:38
Para quando uma covergência dos países apelidados de periféricos?
No cinzentismo neoliberal da Germânia, Grã Bretanha e França e na ausência de qualquer ideologia (apenas os apetites dos «mercados») é que todos devemos apontar como algo que está a destruir os direitos dos europeus.
Foram construídos com lutas e ideologia. Não vão ser personagens medíocres, que governam esses países, que nos vão ensinar ou exigir modelos de PEC(s)!
Tenho amigos, no norte da Europa, que se admiram como ainda não nos associámos na luta e não denunciámos esta ingerência.
Seja em Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha,…, haverá sempre um governante, sem qq ideologia, pronto a obedecer e trair esses direitos.
Mais, no norte da Europa, preocupam-se que este fenómeno possa contagiar os seus países, caso vencesse no Sul.
Sempre receei os que militam em partidos, sem ideologia, como funcionários e apenas para se servirem.
Há ideologia. Há quem não seja medíocre. Há quem acredite que a luta é de Todos. Então haja União e Denúncia!
em 13/03/2011 em 16:03
Eu estive no Campo Pequeno e fui acabar na outra já meio a desmobilizar. Tive pena de chegar no fim, mas valeu a pena. Isto, ao contrário da ‘concentração’ no campo pequeno, autenticamente desmobilizadora. A manifestação ‘à rasca’ foi um sucesso, as canções ‘roubadas a 74’ trouxeram a lágrima ao olho. O Campo pequeno uma tristeza monocórdica à procura dos seus óculos de aumento.
Conclusão de um itinerante: Assim não dá. Até eu, que tentei mobilizar o mais possível para o Campo Pequeno (apesar do apesar…), porque, neste aspecto concordando com a Cristina Ribas, entendo que é preciso estarmos todos unidos e porque entendo que só juntos conseguiremos vencer, digo: CHEGA do autismo dos nossos sindicatos.
Como a Cristina, gostei quando Mário Nogueira, num aparente exercício de humildade e quase mea culpa, apelou à união da classe e também à união partidária em torno da educação. Disse que apenas com os sindicatos não era possível vencer, mas que sem eles também não. Mas não foi suficiente. A sensação foi de enjoo e derrota antecipada (sem pica!).
De momento, continuo firme nesta luta, dada a sua justeza a meu ver inquestionável, mas apesar das palavras de Mário Nogueira, e porque palavras leva-as o vento, considero que os sindicatos, assim fosse a nossa classe profissional menos reactiva e mais activa, estão a precisar de um manifestação interna ou externa de ‘Professores à rasca’.
Uma bofetada. Mas uma bofetada activa e que encha ruas – não a que esvazia touradas, que também não leva a lado nenhum.
Quando saberemos ‘capitalizar’ este imenso sentido de desgaste e revolta dos professores?
Ou, uma hipótese a ter em consideração, estou eu enganado, vocês enganados, e os professores, afinal, estão mesmo acomodados e a lutar por menções de mérito e prémios do Professor do Ano, completamente desinteressados da ruína da escola pública e da qualidade da formação das gerações futuras?
Se assim for, se mais não formos do que insatisfeitos e remelosos velhos do Restelo, nós os que persistimos em apontar o dedo à destruição da escola pública de qualidade, ao desinvestimento na educação e à exploração de uma classe profissional, em moldes nunca antes imagináveis, se assim for, é só dizerem-no-lo. Por mim, sei quando saio derrotado.
Como Catulo, limitar-me-ei a argumentar ‘a causa vencedora agradou aos deuses, mas a perdedora agradava a Catulo’ e seja o que vocês quiserem… desunhem-se, porra.
Deitem-se nos vossos sofás em frente às vossas dilectas novelas, todos contentes por serem relatores e por poderem vir a a ser excelentes bestas, bestas de mérito.
E pronto, hoje sou eu que estou f..
em 14/03/2011 em 00:10
Maria,
Tocas num ponto fundamental. O combate que se impõe não pode ser desenvolvido à escala de um só país, porque os problemas são globais e são, sobretudo, europeus. Se os países da periferia da zona euro se unissem e impusessem, por exemplo, uma renegociação das dívidas conduzida por critérios e exigências definidos pelos governos desses países e não pelos credores, isso representaria um salto qualitativo fundamental – já que essa renegociação iria impor uma solução do buraco financeiro que não assentasse em políticas de “austeridade” afectando sempre o “mexilhão” do costume. Essa unidade transnacional tem, contudo, de ser construída atráves de um amplo movimento social, organizado a uma escala europeia ou, pelo menos, ao nível de todos os países da periferia. Neste momento, estamos ainda a anos-luz de conseguirmos algo de parecido. O que aconteceu neste Sábado não passou de uma catarse colectiva, impressionante mas inconsequente.
Carlos,
Já tinha lido o teu texto no blogue do Guinote, e devo dizer-te que fiquei entre o impressionado – pela contundência e lucidez das tuas palavras – e o triste – por verificar que as pessoas empenhadas como tu já não aguentam mais o conformismo e a bovinidade cúmplice que parecem ter tomado conta da classe dos professores. Por motivos profissionais, tenho estado afastado da docência, mas mantenho-me suficientemente atento e informado (a começar pelo facto de a minha mulher ser professora no secundário) para constatar que a maioria dos professores parece ter renunciado a qualquer forma de resistência mais determinada, precisamente quando tão necessária ela seria. Teremos de chegar à conclusão de que 2008 foi só um breve intervalo numa longa história de passividade?
em 14/03/2011 em 11:15
Mário,
ontem li a mensagem do Carlos Rocha e revi alguns dos meus sentimentos o que não é uma memória boa do dia de ontem.
Nas Escolas instalou-se ou o medo ou o oportunismo que estava camuflado. Agora há os(as) Directores(as).
Uma geração de profissionais competentes e que tanto tinham pra transmitir, pediu a aposentação com graves perdas pecuniárias e com muita desilusão.
O Poder aposta numa geração de professores, mais novos, mais dóceis e mais «baratos». Os Directores ajudam-no.
Ontem alguém, que se aposentou por não aguentar mais o caos,reenviou-me um texto escrito no blogue. Chama-se
«Memórias esparsas do Luís». Não posso nem quero acreditar que 2008 tenha sido «um breve intervalo numa longa história de passividade».
No Carnaval, alertaram-me para o que se passa numa escola do Porto. Os Professores de Matemática receberam, nos poucos dias de descanso, um email com os resultados obtidos pelos seus alunos na Prova de Aferição de 2010. Mas… constava o nome dos docentes, as turmas em que leccionavam, comparavam os resultados obtidos, pelos seus alunos, em Geometria, Estatística, ….
É uma escola que cria tumas heterogéneas.De alunos com explicações e com pais com Ensino Superior e de alunos de estratos sociais sem grandes expectativas para o percurso escolar . As primeiras são entregues a quem pertence ao «sistema» e as segundas a quem não é tão «bovino».
Essa comparação não referia essas diferenças. Pela 1.ª vez referia o nome dos docentes e não tinha como objectivo a reflexão mas um aviso: estão a ser avaliados!
Com outro Delegado e Coordenador (que se aposentaram precocemente) essa reflexão tinha sido efectuada no final do 3.ºPeríodo. O nome do docente não era referido mas os motivos para os , melhores e piores, resultados foram analisados e propostas algumas correcções.
Os novos «avaliadores» foram nomeados…
Nessa escola será impossível qualquer actividade sindical de professores sem consequências desgastantes.
Todo este tipo de escolas impede o bom desempenho dos docentes nas aulas. Não podem dar tudo o que sabem e podem porque o ambiente os agonia, à entrada do portão.
´Mas há outras Escolas onde reside a nossa esperança!|
em 14/03/2011 em 13:28
A manif “à rasca” encerra em si própria as contradições naturais de uma onda (não lhe chamo movimento)que, vinda de baixo, carece inteiramente de direcção e de substância. Já se disse que foi um enorme sucesso ao conseguir juntar algumas centenas de milhar de pessoas, desde alguns skins, até alguns gays, passando por amigos dos animais, jovens e avozinhos, Joana Amaral Dias, etc. Creio ser muito significativa a posição dos organizadores. Perguntados sucessivamente:- E agora??? O que fazer com essa mole humana descontente??? A sua reacção foi:- E agora NADA!!!!!!! Para quem ainda tivesse dúvidas, aí está o propalado sucesso. O próprio blogue foi desactivado imediatamente e criado outro mais inofensivo, não fosse alguem ter veleidades contestatárias. Pois, realmente, com sucessos destes não vamos a lado nenhum!!!! É fácil perceber que, estando as saídas todas completamente armadilhadas(partidos e sindicatos), a única hipótese que nos resta é a de contornar definitivamente essas instituições e criar movimentos bem estruturados, orientados por objectivos claros e consequentes, de molde a denunciar em permanência o percurso das cliques instaladas e a propor as alternativas necessárias. Os egípcios perceberam que tinham de tomar uma posição de força e de a manter custasse o que custasse, até o poder ruir. Ninguém pense que os beneficiários do sistema e da crise vão desistir das suas mordomias escandalosas por um “concerto de boas vontades”. Isso nunca acontecerá!! Daí que os apelos à união das esquerdas e direitas num “desígnio nacional” seja algo poético. Como querem que eu me vá unir àqueles que vivem do cambalacho, da vigarice, da mentira, do tráfego de influências, do assalto ao erário público, do esbulho, do desbaratar dos recursos????????? Com esses nunca poderemos pactuar!!!!!!!!!!!!!!!!!!
em 14/03/2011 em 15:28
Pois, Zé. Eu, que acompanhei as manifestações à distância, também não embandeirei em arco e tentei pôr alguma água na fervura de pessoas que me contactaram, muito entusiasmadas, pensando que havia ali uma vaga de fundo que se iria transformar num grande movimento. A sua heterogeneidade, o seu carácter inorgânico, o simples facto de não haver sequer um conjunto de reivindicações minimamente estruturadas a sustentá-las, leva a pensar que tudo aquilo foi uma grande catarse colectiva que não vai deixar rasto político nos tempos mais próximos. Digamos que, na melhor das hipóteses, foi um sério aviso e que teve, pelo menos, o mérito de incomodar e até de perturbar alguns turiferários da nossa direita liberalóide (Pachecos Pereiras e coisas assim). Mas pensar que dali pode nascer alguma revolução “egípcia” é pura ilusão.
Sabes que mais? Eu já não alinho em manifs. de rua, sobretudo quando não as vejo articuladas com formas de luta que incidam onde dói efectivamente e onde tudo se joga: nos locais de trabalho. É que vir para a rua gritar umas palavras de ordem é muito bonito, deixa o pessoal muito satisfeito (por umas horas), mas depois tudo se esboroa porque não tem continuidade nos espaços laborais onde a resistência e a recusa deveriam estar a ser construídas. Já tivemos abundantes exemplos nos idos de 2008: muitos professores engrossavam as manifestações dos 100 mil e dos 120 mil, e depois, nas suas escolas, alinhavam em tudo o que decorria da absurda avaliação do desempenho. Alguns até andavam a minar o esforço daqueles que, nessas escolas, tentavam paralisar toda a palhaçada da avaliação. Sei bem do que falo. Por isso, manifestações com milhares de pessoas, com tudo ao molho e fé em Deus, não me impressionam rigorosamente nada. Façam greves por tempo indeterminado, recusem-se, em bloco, a obedecer a ordens iníquas e idiotas, revoltem-se contra os tiranetes que ocupam as direcções das escolas (ou das empresas), e então aí poderemos falar. Mas enquanto se mantiver o ambiente que a Maria relata no seu último comentário, não contem comigo para fogachos de rua. Para esse peditório, já dei.