Contentes com quê?
Vai por aí, nalguma blogosfera docente, um grande contentamento perante a queda do governo de Sócrates. Com o país à beira da bancarrota, da entrada do FMI apresentada como inevitável – com ou sem Sócrates – e associada a um rol de políticas que arruinarão o que resta do anémico “Estado Social”, apetece perguntar a esses nossos colegas:
Estão contentes com quê?
Acham que a saída do pseudo-engenheiro vem resolver alguma coisa?
Perguntas ainda mais perversas:
Pensam que a saída de cena de Sócrates significa, necessariamente, que nos vamos ver livres dele de vez?
Não percebem que tudo isto foi uma provocação mal amanhada para que Sócrates vá a eleições antecipadas numa altura que ainda lhe pode ser favorável, antes de ter de assumir a plena entrada do FMI («plena» porque ele já está praticamente cá dentro), tendo assim margem de manobra para se vitimizar e demonizar os outros partidos, o que lhe poderá render uns bons votos?
Não admitem a hipótese de que, depois do José, poderá muito bem regressar o Sócrates?
Perguntas às quais se seguem outras:
E acham que um governo do PSD, com ou sem o CDS à boleia, com ou sem maioria absoluta, constitui uma solução minimamente viável para este desgraçado país? Acham sinceramente que esses partidos estão na disposição de romper com a política de amanuenses de Bruxelas servilmente adoptada pelo governo de Sócrates?
E acreditam que um eventual governo de coligação alargada ou, como alguns dizem, sem recear a contradição nos termos, de «salvação nacional», reeditando o «centrão» requentado, nos vai realmente “salvar” do buraco em que estamos metidos?
Conseguem ver, dentro dos partidos em que o “povão” deposita a maioria dos seus votos, algum político com coragem e clarividência para bater o pé a Bruxelas e ter a iniciativa de procurar criar, em conjunto com os países depauperados do sul da Europa, uma frente comum capaz de impor outra política que não a do empobrecimento geral dos trabalhadores e das classes médias?
em 23/03/2011 em 23:12
Concordo perfeitamente com o teor geral do post. Mas, ó gente, deixai-me, nem que seja por poucas horas, estar contente com o fim da urticária.
Munido de anti-histamínicos, cá estarei para o confronto com novas e mais gravosas alergias…
Carlos Marinho Rocha
em 23/03/2011 em 23:17
O problema. meu caro Carlos, é que a coceira está longe do fim e não é nada líquido que nos tenhamos visto livres da urtiga. E, mesmo que a urtiga seja cortada, há muita erva daninha pronta (e desejosa) para lhe ocupar o lugar.
em 23/03/2011 em 23:17
De olhos fechados e sem saber o que aí vem, sim, estou contente!
em 23/03/2011 em 23:21
Concordo totalmente. Também não percebo.
em 23/03/2011 em 23:31
O falso engenheiro vai suceder ao pseudo-engenheiro.
em 24/03/2011 em 07:32
Também concordo que isto tenha sido uma jogada do Sócrates para saír enquanto o FMI não chega e nas eleições ir fazer propaganda sobre o assunto. Não me espantava até se ele fosse eleito de novo, pois o povo português parece que é burro e teimou em não ouvir a voz da razão. Resultado: estamos dentro de um buraco sem fim. Conclusão: temos o que merecemos.
em 24/03/2011 em 10:40
Não sai!
Mas se sair (o que é pouco provável, dada a efectiva ausência de alternativas credíveis) quem o substituir dificilmente abrirá mão do que de doloroso foi estabelecido; com a vantagem, aliás, de não atrair sobre si o ónus do odioso em relação a isso mesmo e sentindo-se liberto para insistir na utilização da ripa.
em 24/03/2011 em 17:56
Cá estamos nós outra vez a sermos obrigados a escolher entre a peste e a cólera. Pelo que já se conhece da estratégia laranja como privatizações, etc, é fácil perceber que o desatre vai intensificar-se sabiamente orientado pelo Coelho cuja vasta experiência profissional nos dá a certeza de FICAR mas de não MODIFICAR. Vamos ter de dar a volta a esses figurões e marcar já o terreno, dizendo NÃO a mais esta farsa!!!!!!!!!!!