APEDE


Para compreendermos o que realmente se passa

Posted in Um "post" de que até o Leitor vai gostar por APEDE em 18/04/2011

Um dos truques mais comuns da propaganda com que nos andam a matraquear para aceitarmos como inevitável a pseudo-ajuda do FMI consiste em centrar o nosso olhar apenas no nosso país – e mesmo assim de forma distorcida.

Acontece que, se olharmos para o quadro global, a inteligibilidade de tudo isto muda de figura.

Ora vejam este gráfico:

O que esta tabela nos mostra é a forma como, nos Estados Unidos, evoluiu a apropriação do rendimento total da nação por parte dos 10% mais ricos. Como se vê, em 1927, antes do mega-colapso financeiro de 1929, esses 10% abarbatavam 50% de toda a riqueza disponível, um número perfeitamente obsceno que só parecia dar razão às previsões de Karl Marx. Depois, entre o final dos anos 30 e 1942, deu-se uma queda brutal. E, a seguir à 2.ª Guerra, o que vemos é uma tendência estável: até ao início dos anos 80, a apropriação da riqueza nacional pelos mais ricos fica-se quase sempre abaixo dos 35%. É fácil perceber o que significa isto: esse período correspondeu à formação de uma classe média aparentemente sólida, cujo surgimento só foi possível devido a uma distribuição mais igualitária da riqueza. Foi a idade de ouro do keynesianismo. E muita gente pensava que iria durar para sempre.

Contudo, a partir do início dos anos 80 a tendência inverte-se brutalmente. E, surpresa das surpresas, chegamos a 2007, o ano de todas as crises, com os mesmos 10% a reservarem de novo os 50% da riqueza só para si.

O que este gráfico revela, para quem não tenha os olhos totalmente tapados pelos dogmas da propaganda dominante, é esta verdade básica: o triunfo do neoliberalismo, com mais ou menos Reagan, significou (e continua a significar) a destruição sistemática da classe média, cujos rendimentos estão a ser vertiginosamente transferidos para uma minoria de enormíssimos nababos, boa parte deles a cavalo de um capital totalmente improdutivo, que obtêm na economia de casino da especulação financeira e de salários surrealisticamente inchados. Note-se, já agora, que a evolução destes últimos corresponde fielmente à evolução da apropriação da riqueza nacional:

Ora, poderão pensar os nossos leitores mais distraídos ou mais benévolos, mas isso é uma coisa lá dos States. Aqui na Europa tem sido tudo muito diferente. Puro engano, como se vê pelo seguinte gráfico, que compara as percentagens de apropriação da riqueza nacional pelo 1% dos mais ricos em diferentes países, num período de quase 100 anos:

Como se vê, com raras e honrosas excepções, a tendência foi para acompanhar a evolução (ou involução) norte-americana. E se o gráfico prosseguisse até à actualidade, a imagem seria ainda mais eloquente.

A esta luz, percebe-se melhor o que está a acontecer aos “PIGS” da Europa. A matança, perfeitamente programada, dos “PIGS” representa apenas uma aceleração e uma condensação da transferência de rendimentos acima assinalada.

No final, ficaremos com sociedades completamente arruinadas, mergulhadas numa recessão e numa paralisia económica sem qualquer saída.

O leitor acha-se membro da chamada «classe média»? Então comece a fazer as malinhas porque, à sua espera, está a maior despromoção social que alguma vez se viu na história recente deste país.

Que isto passe por «ajuda financeira» é a mais suprema das ironias. Daquelas que só uma propaganda muito bem orquestrada consegue fazer passar por evidência indiscutível.

Uma resposta para 'Para compreendermos o que realmente se passa'

Subscribe to comments with RSS ou TrackBack para 'Para compreendermos o que realmente se passa'.

  1. maria said,

    Grupos económicos, anónimos, cujo capital está guardado em paraísos fiscais comandam a política e os governos. Deslocam seus capitais para onde entenderem. Daí o alerta já lançado sobre a futura escassez de alimentos.
    As convulsões sociais nem assustam a Merkel nem o Sarkozy e nem mesmo os conservadores americanos.
    Só há um caminho que me parece mais correcto: obrigar a “troika” dos chamados países mais “ricos” a cumprir aquilo a que se comprometeu e identificar todos esses poderosos. Investigá-los, obrigarem-nos a pagar ou levá-los a tribunal internacional e, já agora, encerrar esses paraísos fiscais.


Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s


%d bloggers gostam disto: