Antes de Abril – 1
Os primeiros documentos que vamos aqui divulgar reportam-se à situação dos presos deportados no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, o tristemente célebre «campo da morte lenta».
Na leva dos primeiros 152 presos políticos que “inauguraram” esse campo em 1936, contavam-se alguns dos marinheiros que haviam participado na famosa Revolta dos Marinheiros de 8 de Setembro de 1936, na qual a Organização Revolucionária da Armada, afecta ao PCP, procurou sublevar 3 navios de guerra com o objectivo de derrubar a ditadura de Salazar. Com várias debilidades organizativas – em parte fruto da idade juvenil de todos os participantes nessa revolta -, a insurreição dos marinheiros foi facilmente dominada,
com os seus principais dirigentes condenados a pesadas penas de degredo no Tarrafal. 16, 17 e 20 anos de prisão, quase todos integralmente cumpridos no campo da ilha de Santiago.
Artur Faria Borda, irmão de um dos principais dirigentes da Revolta dos Marinheiros, João Faria Borda – precisamente condenado a uma das penas mais prolongadas -, dedicou-se, em conjunto com os familiares de outros marinheiros presos, a pugnar pela melhoria das duríssimas condições de vida dos prisioneiros do «campo da morte lenta», a mais modonha das prisões da ditadura. O documento que a seguir mostramos é a resposta da Cruz Vermelha Portuguesa a uma carta em que Artur Faria Borda denunciava a falta de cuidados médicos dispensados aos presos do Tarrafal, falta essa (perfeitamente deliberada) que levou à morte de um largo número dos detidos. A resposta da Cruz Vermelha, que se limita a reproduzir a versão oficial do regime, traduz bem a cumplicidade dessa organização com a ditadura salazarista: