Por que é que uma certa esquerda (mas há outra?) tem feito muitos estragos no ensino
Lemos esta prosa de Daniel Oliveira – um blogger e opinador que até nos merece alguma estima – e vemos o retrato do que uma certa esquerda pensa para o ensino em Portugal. Os punhos de renda que o autor da prosa utiliza para se referir ao programa das Novas Oportunidades dizem tudo sobre a sua visão relativamente a uma das mais abjectas fraudes que se instalou no sistema educativo português, por obra e graça da demagogia socratina. Como o dito programa é para os “pobrezinhos”, os “coitadinhos” que, «depois de um dia de trabalho, ainda arranjam forças para ir a uma escola», não se pode denunciar as Novas Oportunidades como aquilo que realmente são: uma mentira na qual não sei quantas centenas ou milhares de inocentes têm caído, para gáudio da máquina propagandística do PS. Daniel Oliveira acrescenta, sem se rir, que essas pessoas «tiram tempo ao seu tempo para aprender um pouco mais».
Mas aprender o quê? A fazer “portefólios” contando histórias da carochinha, os quais, pelos vistos, até podem ser integralmente comprados na Internet?
Estamos todos a brincar?
A complacência de uma certa esquerda – de que Daniel Oliveira é, neste aspecto, um lídimo representante – para com a fraude das Novas Oportunidades reflecte, no fundo, uma posição mais lata (na verdade, cheia de lata). Uma postura segundo a qual é preciso “desconstruir” a autoridade do professor na sala de aula, deixando-o entregue à descontraída indisciplina dos alunos, esses sim, reis e senhores, sobre os quais o ensino tem de estar “centrado” – o que significa abdicar de lhes transmitir saberes (essas coisas chatas) que possam colidir com aquelas magníficas “competências” que eles levam das suas casas para a escola. Etc., etc., etc.
Estas ideias “de esquerda” – adoptadas, aliás, pelo PSD sempre que foi responsável pela pasta da Educação – conduziram-nos ao lindo cenário de guerra em que muitas escolas estão transformadas, à desvalorização completa (cultural e política) do professor, ao abastardamento dos saberes e à produção de fornadas de jovenzinhos debilóides que vão depois engrossar as fileiras dos praticantes das praxes universitárias – tradução troglodítica do que significa hoje frequentar o ensino superior – para mais tarde acabarem a espernear na próxima «geração à rasca», sem perceberem muito bem (porque nunca perceberam nada) o que lhes aconteceu.
Ok, nós sabemos que não foram só as ideias “de esquerda” que nos trouxeram aqui. Diversos outros factores se acumularam para fazer do sistema educativo o rotundo fracasso em que se transformou (com raras e honrosas excepções, que existem e ainda bem). Mas lá que a esquerda à Daniel Oliveira insiste em não aprender com as asneiras cometidas, é um facto que nos parece evidente.
em 25/05/2011 em 12:45
As políticas educativas da esquerda, só podem envergonhar quem for sinceramente de esquerda: nunca uma classe profissional foi tão humilhada. Ainda hoje, uma parente da aluna agredida, sem mais nem menos, atirou logo culpas para a escola e professores. Os professores são o alvo fácil de Pais e alunos. É uma vergonha ver que a sociedade inteira de demitiu de educar os mais jovens que vivem sem quaisquer limites.
Porém, as Novas Oportunidades foram uma forma de trazer à escola quem de nenhuma outra forma se dispunha a estudar. Pessoas que estavam “mortas”, ou nunca chegariam a nascer, para a leitura, para o debate de ideias, …para a vida, como que ressuscitaram.
Não estive, não estou nem estarei ligada às Novas Oportunidades, mas pude observar o despertar destas pessoas, o seu ânimo, o seu rejuvenescimento ao atravessar, ao respirar outra vez o ambiente escolar. O convívio entre colegas, as ideias e os livros que se trocam, os interesses e aptidões que se revelam, etc., etc., etc..