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É desta que o eduquês leva com a merecida barrela?

Posted in De olhos bem abertos por APEDE em 17/06/2011
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Já o dissemos várias vezes: o momento não está para foguetes. Muito pelo contrário. E o PSD/CDS e o FMI e Bruxelas e a estratégia do capitalismo financeiro. E etc.

Mas, dito isto, alguns comentários se impõem sobre a nomeação de Nuno Crato para o Ministério da Educação, Ensino Superior e Ciência.

Em primeiro lugar, é da mais elementar justiça saudar o facto de a tutela da Educação pré-universitária e do Ensino Superior, associado à investigação científica, voltar a estar concentrada num único pólo governativo, como faz sentido para quem possui do ensino uma visão integrada, que pense na globalidade as questões do acesso ao conhecimento e da sua produção. A solução que vigorou nestes últimos anos, orientada para a desarticulação dos vários níveis de ensino, com a inferiorização do ensino pré-universitário, foi epistemológica e politicamente absurda.

A segunda observação vai para a figura do nomeado. Sabemos que Nuno Crato cria muita comichão nos tolinhos da cientologia da educação que pululam por aí. Só por isso, e pelo eventual medo que a esta hora se está a apoderar de certas alminhas que têm pontificado no Ministério da Educação, a nomeação do dito cujo tem qualquer coisa de saboroso.

É claro que também sabemos que muitas análises que Nuno Crato foi tecendo ao longo dos últimos anos pecam, por vezes, de algum tremendismo, de uma boa dose de reducionismo na leitura dos problemas e, claro está, de um alinhamento pouco saudável com o primarismo analítico de um Medina Carreira.

Ainda assim, e com todas as precipitações em que possa ter incorrido, Nuno Crato é daqueles que pôs o dedo em muita ferida purulenta do nosso sistema de ensino. É inevitável que, por isso, crie fundadas expectativas em muitos professores.

Sobretudo, há que lhe reconhecer alguma coragem em ter aceite uma pasta ministerial onde é tão fácil sair esturricado. Não é todos os dias que um indivíduo que ganhou notoriedade pelas críticas e sugestões que fez em sede jornalística é chamado a aplicar, na prática, as suas ideias. E que aceita esse desafio. Teria sido mais fácil para Nuno Crato continuar resguardado no conforto das colunas de opinião onde tanto treinador de bancada faz carreiras inconsequentes. Não reconhecer isto é pura hipocrisia política.

Num certo sentido, Nuno Crato tem aqui o desafio da sua vida. A margem de manobra de que dispõe é estreitíssima, se tivermos em conta os apertos impostos pela “troika”, o muito pouco promissor programa do PSD para o ensino e toda uma classe profissional, a dos professores, que não suportará mais outro ministro frustrante.

Se Nuno Crato não estiver minimamente à altura dos conselhos e das posições que foi defendendo nas tribunas da comunicação social, é caso para dizer que, no futuro, nunca mais deverá articular uma só palavra sobre educação.

Vamos aguardar, pois, com um pé vigilantemente atrás e os olhos bem abertos.

 

5 Respostas para 'É desta que o eduquês leva com a merecida barrela?'

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  1. Meio Vazio said,

    Talvez a ganga ideológica que suportou o experimentalismo lúdico e igualitarista das últimas décadas se volatizee se volte a ensinar (!) e a aprender (!) nas escolas.

  2. Lelé Batita said,

    É mesmo isso: exija-se coerência, mas não milagres!
    Um abraço e parabéns pelo texto lúcido!

  3. Lelé Batita said,

    Levei o texto para o meu Blogue e fiz alguns comentários. Com vossa licença. Abraços.

  4. Zé Manel said,

    É com alguma esperança que vemos a figura de Nuno Crato no ME, conhecidos que são os seus pontos de vista sobre o estado lastimoso a que chegou o nosso ensino. Mas temos plena consciência de que, por muita boa vontade que o professor tenha, e sinceramente acreditamos que vai precisar dela, há uma questão prévia que não pode ser escamoteada. Sem um saneamento sério e criterioso nos meandros da 5 de Outubro, que varra toda a clientela pseudo-científica que pulula pelos seus corredores e é co-responsável pelo descalabro actual da máquina educativa, não serão de esperar muitas alterações qualitativas de fundo.


  5. […] cabo por Nuno Crato de acordo com o wishfull thinking dos professores portugueses (sobretudo os do ensino pré-universitário), é a contradição entre o necessário combate ao abandono escolar e a promoção da […]


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