Retrato de um mentiroso
Este vídeo notável, realizado por quem prestou um verdadeiro serviço público, mostra exactamente o quê?
Bom, em primeiro lugar mostra o que, à primeira vista, constitui uma reedição de José Sócrates em versão pêpêdolas betinho.
Mas, desgraçadamente, mostra muito mais do que isso. Revela, da forma mais inequívoca, a completa falência de um certo regime democrático inaugurado, não propriamente no 25 de Abril de 74, mas no 25 de Novembro de 75. Um regime de democracia de fachada, assente na passividade e na demissão dos cidadãos “comuns”, chamados de 4 em 4 anos a plebiscitar um ou outro dos partidos do centrão, que se vão alternando no serviço dos interesses de quem domina os cordelinhos e de quem lhes passa os cheques e cujos figurões e figurinhas transitam, com total impunidade, das cadeiras ministeriais para os conselhos de administração das empresas que beneficiaram enquanto “governantes”. Uma pseudo-democracia na qual o cumprimento de quaisquer compromissos ou promessas eleitorais tem sido letra mais que morta.
Passos Coelho passeia-se tranquilamente, num curto espaço de tempo, de uma determinada posição para a sua oposta, faz exactamente o contrário do que apregoou antes, pisca obscenamente o olho ao eleitorado basbaque para, chegado ao governo, fazer o contrário do que havia defendido antes.
E nós assistimos a isto, com a incredulidade de quem descobre que há sempre mais um degrau para se descer na cave da ignomínia política.
Cada mentira impune que estes senhores congeminam é um tiro acrescido no regime vigente. Mas é também pior do que isso: é um tiro que atinge a própria ideia de democracia em geral, a ideia de que se pode fazer política na base de um contrato de confiança entre os cidadãos e os seus representantes.
Andamos todos, compreensivelmente, angustiados com esta crise fabricada para exaurir as classes médias a favor dos anafados do costume. Mas talvez não estejamos a reparar noutra crise, mais larvar e, porventura, mais grave. Aquela de onde saem os verdadeiros monstros.
em 14/10/2011 em 18:44
“E nós assistimos a isto, com a incredulidade de quem descobre que há sempre mais um degrau para se descer na cave da ignomínia política.”
Descobrir não é, direi, o maior problema.
O aborrecido é ser-se crédulo.
……mais uma corrida, mais uma viagem. fim de semana para ganhar coragem….