APEDE


Minuta para os «professores excedentários», em vez de emigrarem, pedirem asilo político ao Reino Unido

Colocamos aqui esta modesta proposta de minuta, concebida para ser enviada à Embaixada do Reino Unido em Lisboa (ou ao Foreign Office em Londres), na esperança de que um «professor excedentário» da disciplina de Inglês a traduza para a língua de George Bernard Shaw:

Exmo. Sr. (preencher com a designação do destinatário: Embaixador, Ministro ou Primeiro-Ministro Inglês):

Considerando que me encontro em posição de emigrar para qualquer país não-ibérico, na qualidade de professor excedentário, de acordo com o mais recente conselho do nosso Primeiro-Ministro,

Considerando, por outro lado, que as autoridades do Reino Unido estão a ponderar a possibilidade de fretar aviões, barcos e autocarros para retiraram os cidadãos britânicos de Portugal e de Espanha no caso de uma eventual bancarrota destes países,

venho, por este modo, solicitar o estatuto de exilado político que me permita, em lugar de ter de emigrar, poder beneficiar da protecção da Coroa Britânica e acompanhar os cidadãos britânicos que se preparam para ser expatriados.

A justificação deste meu pedido radica no facto de o actual governo de Portugal estar empenhado em perseguir e agredir os trabalhadores em geral, com especial destaque para os funcionários públicos e, neste particular, para os professores. Estando em risco de perder o meu futuro, e tendo as minhas condições de vida sob séria ameaça, creio ser legítimo requerer o estatuto de exilado político à luz do direito internacional e dos mais elementares critérios de justiça.

Aguardando o melhor acolhimento da parte de V. Exa., sou

atenciosamente 

assinatura _________________________  

 

Mas, esperem lá, não foi o Reino Unido que inventou o essencial das políticas anti-sociais que nos estão a ser impostas? E não é verdade que os “bifes” também estão à rasca? Pois é. Afinal, Angola é capaz de ser mesmo um destino mais adequado. Nesse caso, os «professores excedentários» podem também escrever uma cartinha às autoridades angolanas, a acompanhar o “curriculum vitae”, que incluiria qualquer coisa como:

… Tendo eu adquirido, na minha qualidade de observador interessado e atento da realidade angolana, diversas competências em matérias tão diversificadas como o tráfico de influências (ou de armas, ou de diamantes), etc., etc. … 

Repressão policial com o rabo (oportunista) de fora

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 26/11/2011

É verdade que, nos distúrbios de anteontem frente à Assembleia da República – aos quais uma comunicação social pavloviana e subserviente concedeu uma atenção desproporcionada – os instigadores à violência obtiveram os seus fins por ter havido “instigáveis” que se puseram, parvamente, a jeito. Mas isto que está a ser denunciado aqui, aqui e aqui, caso se venha a confirmar, é de uma gravidade que ultrapassa todos os limites do tolerável em democracia e no chamado «Estado de direito» (designação cada vez mais inapropriada para este lupanar mal frequentado).

E depois o estômago ainda se revolve mais quando ouvimos o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícias considerar que os incidentes ocorridos durante a greve geral – alguns dos quais, pelos vistos, fomentados por polícias infiltrados – são um sinal de que a violência vai aumentar no futuro próximo, usando este argumento para justificar que o governo aceite… algumas das reivindicações dos polícias

Se for verdade o que circula por aí, estamos perante uma táctica reivindicativa brilhante! Os polícias estão proibidos de fazer greve, mas, como se vê, terão arranjado maneira de contornar o problema, diversificando as formas de fazer valer as suas reivindicações: infiltram manifestações, criam desacatos, distribuem pancada a pretexto dos «incidentes» que eles próprios fomentaram, e, no fim, invocam a legitimidade do seu caderno reivindicatico com a maior das canduras.

Sim senhor! Chama-se a isto criatividade na luta laboral! O pormenor chato é que é feita contra outros trabalhadores e contra manifestantes que, de forma mais ou menos eficaz, protestam contra um estado de coisas que também afecta a classe profissional dos polícias…

 

Estes gajos andam mesmo a gozar connosco

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 11/11/2011

A palhaçada continua e os governantes-que-temos insistem na provocação social.

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 23/10/2011

Austeridade para todos? Equidade na distribuição dos sacrifícios? Claro que não. Apenas retórica que se esboroa perante os factos que vamos conhecendo. Como este, relatado nas páginas do Diário de Notícias:

Dois membros do Governo que têm casa própria em Lisboa recusam a ideia de não receber o apoio que lhes foi dado por a residência permanente estar a mais de 100 km da capital. Gabinete de Gaspar não comenta cenário de recuar na atribuição deste subsídio. Há nove governantes que recebem um subsídio de alojamento, que teve efeitos a partir da posse. O despacho do primeiro-ministro data de 20 de Setembro e atribui o apoio aos membros do Governo que não tenham residência permanente na cidade de Lisboa ou numa área circundante de 100 km. Mas um ministro e um secretário de Estado têm casa própria em Lisboa e, no caso de Miguel Macedo, titular da Administração Interna, a sua declaração de rendimentos indica duas moradas – a de Lisboa e uma em Braga – onde, garante o seu gabinete, reside. Já José Cesário argumenta que tem “direito de ter tratamento igual ao de qualquer funcionário da administração pública”. O Ministério das Finanças não comenta a possibilidade de cortar este subsídio, que pode ir até 1400 euros brutos.

Num momento como o que atravessamos, de “emergência nacional”, estas situações não passam de uma pura provocação social. Se um agente da PSP, com 10 anos de serviço, ganha cerca de 850 euros líquidos, como se pode aceitar que o ministro da Administração Interna se dê ao luxo de arrecadar para cima de 1000 euros apenas em subsídio de alojamento, independentemente de morar ou não em Lisboa? Quanto ao argumento de José Cesário… depois de respirar fundo, talvez, enfim,  recordar-lhe que os professores colocados a 200,  a 300 e mais km de casa, todos os anos… e anos após anos, têm de pagar dos seus parcos vencimentos o aluguer das casas ou quartos onde vivem. Mas esses são funcionários públicos de 2ª categoria, com estatuto muito menos privilegiado. E continuam no “olho do furacão”, assistindo à degradação das suas condições de vida e direitos laborais, enquanto os governantes-que-temos se vão… governando.

As costas largas da «iniquidade»

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 21/10/2011

O cretino evidenciado neste “post” do Paulo Guinote não está sozinho na denúncia que faz. Hoje também ouvimos o economista Silva Lopes – um daqueles marretas da “ciência” económica pátria – dizer que o facto de os funcionários públicos terem um emprego seguro é uma iniquidade.

Estamos, portanto, esclarecidos. Ficámos a saber que a garantia de emprego – um direito que devia ser considerado básico e indispensável a uma vida estável – é, afinal, uma… iniquidade. Em contrapartida, ficar no desemprego de um dia para o outro ou ser despedido sem justa causa constituem exemplos da mais perfeita justiça social.

Nos seus piores pesadelos, George Orwell não previu que a perversão da linguagem pudesse atingir estes extremos.

Entretanto, convém que se diga que, ainda por cima, o cretino e o marreta mentem descaradamente. Pois todos os mecanismos de precarização que têm vindo a ser introduzidos nos contratos da Função Pública – começando pelo fim das nomeações definitivas – vão todos no sentido de alargar aos funcionários públicos o tipo de insegurança que pesa sobre os trabalhadores do privado.

Podem os paladinos da “justiça social” dormir descansados. 

Ligações perigosas

Retrato do país

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 02/10/2011

O que se está a passar com o processo de Isaltino Morais é a ilustração mais cabal e definitiva do que é Portugal, com o seu cortejo de ineficiências estatais, deliberadas e selectivas, corroendo um sistema judicial profundamente desigualitário, feito à medida da impunidade dos poderosos.

Esta farsa de justiça é, objectivamente, uma vergonha nacional. E só não o é subjectivamente, porque uma grande parte dos portugueses convive tranquilamente com a corrupção de quem sobre eles tem poder, não percebendo que são as maiores vítimas da sua própria complacência para com os detentores de cargos públicos.

No fim de tudo isto, Isaltino Morais ainda se vai rir na cara de todos nós. Com ele, é toda a podridão nacional que exulta.

Alguma vez conseguiremos sair deste lodaçal?

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 01/10/2011

O grau zero da decência política

Notícia no Jornal de Notícias on-line:

O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, garantiu, esta quinta-feira que o Governo “não vai contratar professores que não sejam necessários”. A falta de dinheiro e de necessidades justificam a não contratação. “Há muitas pessoas dedicadas que gostariam de ser professores mas que não podem sê-lo neste momento. Não podemos prescindir de grande rigor nas colocações“, frisou, insistindo que o ano lectivo arrancou “com normalidade” apesar dos partidos da oposição o negarem.

O senhor ministro pode tentar, até das formas mais abjectas, sacudir a “água do capote”, mas os professores continuarão a denunciar aquilo que é claríssimo: não se trata de pedir emprego, não se trata de esmolar um contrato, trata-se de defender a verdade e a justiça num concurso público. Horários anuais não podem, não devem, surgir como temporários, e professores com superior graduação não podem, não devem, ficar desempregados, sendo ultrapassados por colegas com menor graduação. É apenas e só uma questão de justiça, de transparência e rigor no processo de colocação. O Ministério da Educação, ao contrário do que afirma Nuno Crato, prescindiu do rigor. E os professores apenas exigem a reposição da verdade e da justiça. O Ministério da Educação tem de assumir os erros e corrigi-los, na medida do possível. É uma questão de decência política.

Estas lamentáveis declarações do Ministro da Educação, supracitadas, vêm ainda dar mais força, e razão de ser, ao protesto que um grupo de professores contratados e desempregados continua a protagonizar e que teve hoje um novo e importante desenvolvimento, com a sua presença (que se prevê ir continuar noite fora) no Palácio das Laranjeiras, onde funciona o gabinete do MEC.

Últimos desenvolvimentos podem ler-se nesta notícia na edição on-line do Diário de Notícias.

A APEDE saúda, naturalmente, os colegas em luta, pela sua iniciativa, e manifesta o seu apoio a esta iniciativa.

E por falar em coisas revoltantes…

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 21/09/2011

Tudo o que está a rodear a colocação dos professores contratados, e que tem sido amplamente noticiado, reflecte fielmente o desprezo por quem trabalha e por quem ocupa o elo mais fraco entre os trabalhadores – traços que marcam inequivocamenta a atitude geral deste governo.

Mas alguém se surpreende com isso? Bom, talvez os professores que, num rasgo de iliteracia política, se precipitaram a dar o voto ao PSD ou ao CDS-PP, convictos de que vinha aí uma ruptura espectacular com as piores práticas do PS socratino. Pois sim, tem-se visto.

Sabemos bem como os responsáveis – supostamente “técnicos” mas, na verdade, políticos – pelo circo deprimente em que se está a transformar o processo de colocação dos contratados permanecerão impantes e impunes. Essa impunidade foi, de resto, recentemente reforçada pela recusa, da parte dos partidos do governo, em chamar o ministro da Educação à Assembleia da República para prestar esclarecimentos sobre a situação escandalosa e inadmissível que está a decorrer. 

Também sabemos como os “erros informáticos”, feitos à medida da precarização do emprego e da proletarização dos docentes contratados, se traduzem em sofrimento pessoal acrescido para muitos colegas.

Por isso, todas as acções são bem-vindas. Nesse sentido, seria bom (seria vital para muitos professores) que esta iniciativa não se limitasse ao teatro costumeiro, tivesse continuidade e se traduzisse numa pressão contínua sobre o Ministério da Educação.

Quando a palavra «nojento» é a única que nos ocorre

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 19/09/2011

A Universidade Católica Portuguesa é, como sabemos, uma instituição privada. E há quem pense que as instituições privadas podem pôr e dispor das suas normas como muito bem entendem. Esses pensam também que a democracia é uma coisa muito bonita desde que confinada ao chamado «espaço público». Pelo que, seguindo o argumento, sempre que passamos o limiar de uma empresa, ou até de um lar, a democracia pode e deve ficar ordeiramente à porta.

Acontece que não tem de ser assim. Se entendermos por democracia o aprofundamento contínuo de todos (mas mesmo todos) os direitos, então temos de defender a inscrição da democracia em todos os espaços, incluindo os «privados».

A história “exemplar” que se encontra descrita aqui, uma história que mostra um acumular de atropelos de todas as normas éticas no comportamento da direcção da Universidade Católica, ajuda-nos a perceber como é absolutamente vital que uma tal instituição esteja obrigada ao respeito pelas regras mais elementares do direito e da equidade – as tais que pertencem ao núcleo fundamental da democracia.

Acrescente-se que esta é uma história desaconselhável a estômagos sensíveis: «nojento» é mesmo o adjectivo adequado.

A Universidade Católica não cessa de nos surpreender…  

Última notícia: PSD e CDS batem o “record” da falta de vergonha

A confirmar-se esta notícia – e não há, infelizmente, razões para que ela não se confirme -, atingimos um novo degrau mais fundo nos esgotos da falta total de vergonha, do troca-tintismo politiqueiro, do oportunismo eleiçoeiro.

E o PCP e o BE, ao apresentarem os seus projectos de lei para a revogação da ADD, terão cumprido um dos seus objectivos: forçarem o Coelho a sair da sua toca de contradições, de zigue-zagues e de absoluta falta de uma velha virtude cada vez mais em desuso: uma coisa chamada «honra».

Nada que nos surpreenda, pois sempre nos inclinámos para a hipótese de que a apresentação das referidas propostas do PC e do BE mais não lograria do que expor – para quem ainda se espanta – a desvergonha dos dois actuais partidos de governo.

Outros colegas blogueiros dizem de sua justiça sobre mais esta injustiça feita aos professores: aqui, aqui e aqui.

Aberrações da academia portuguesa

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 13/07/2011

Não conhecemos em pormenor o que se passa “lá fora”, naqueles países em que o ensino superior se pauta por regras elementares de lisura, equidade e responsabilização.

Mas é duvidoso que lá aconteçam aberrações como a que esta notícia expõe, as quais são, infelizmente, o pão nosso de cada dia nas universidades portuguesas.

De facto, quando alguém escolhe um orientador para a sua tese de mestrado ou de doutoramento, fá-lo na convicção de que esse orientador não só irá, realmente, orientá-lo, como assumirá também a sua responsabilidade pelo trabalho submetido ao júri.

Isto, claro, é o que é razoável supor. Acontece que, no nosso país “à beira mar plantado”, o razoável pode ser sempre sujeito às “versões” mais criativas e inesperadas.

Assim, em Portugal, os orientadores de teses de mestrado ou de doutoramento são, com frequência, verdadeiros desorientadores, que se notabilizam pela completa negligência com que tratam os seus orientandos ao longo de todo o processo de elaboração da tese. Na melhor das hipóteses, deixam-nos completamente “à solta” e, quando a tese vai finalmente ser sujeita a provas, têm apenas uma vaga ideia do que lá está escrito. Isto não os impede, claro está, de acrescentarem essa “orientação” ao seu currículo.

Se as coisas se passassem só assim, não estaríamos totalmente mal. Teríamos apenas professores doutores incapazes de fazer o seu trabalho com decência, mas que, pelo menos, não empatavam o trabalho ou a carreira dos seus orientandos.

Mas Portugal acrescenta a tudo isto aquilo que deve ser uma originalidade pátria: orientadores que desfazem, massacram, trituram as teses dos seus orientandos em plenas provas de mestrado ou de doutoramento. Num qualquer país um pouco menos parecido com uma instituição psquiátrica o papel do orientador é verificar se a tese está ou não em condições de ser submetida a provas públicas. Se não estiver, a tese não chega, pura e simplesmente, a esse patamar. Porque, se chegar, o orientador é responsável por ela e tem também de responder por ela! Faz algum sentido que, num júri, o orientador seja o principal crítico do trabalho daquele que, supostamente, orientou?

Mas não! Semelhante clareza de regras é demasiado trivial para a nossa brilhante academia!

E depois acontecem estas coisas nojentas e revoltantes…

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 08/07/2011

… que mostram como a cultura de desprezo total por quem trabalha, acrescida de arrogância para com o elo mais fraco da cadeia laboral, é uma cultura que está aqui para durar, e com a qual nos vamos certamente confrontar muitas vezes no futuro que nos espera:

ESCOLAS PÕEM DOCENTES NA RUA

Este país não é para pessoas livres

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 13/06/2011

Já várias vezes, neste blogue, analisámos a escassa apetência do tugazinho médio pela fruição da liberdade cívica. Parece que continuamos a arrastar o atávico peso de séculos de cultura inquisitorial aos quais, em época mais recente, se somaram os quase 50 anos de um fascismo que penetrou no mais fundo das sinapses de boa parte dos portugueses para lá depositar os ovos do “respeitinho é que é bonito”, do “a minha política é o trabalho”, da espinha dobrada diante do chefe (à espera de que ele não olhe para então se transgredir a lei, mas só um bocadinho), do culto do ditador austero e protector.

Portugal destaca-se pela ausência quase total de uma cultura de debate aberto, de troca desassombrada de argumentos, de livre recurso a expressões fortes, contundentes e até malcriadas para vituperar adversários – tudo aquilo que, por exemplo, na Inglaterra e até na puritana América constitui o pão nosso de cada dia de debate público. Um décimo do que é perfeitamente normal no Daily Show de John Stewart provocaria, por cá, as reacções mais histéricas e os escândalos mais descabelados.

Entre nós, o normal é a figura “pública” (político, jornalista, escritor, etc.), visada por uma crítica mais acutilante, tentar remeter para o foro judicial aquilo que é, tão-só, expressão do exercício de uma opinião que, com 37 anos de democracia, devia ser livre mas que continua armadilhada.

Tivemos já o caso de uma escrevinhadora de romances cor-de-rosa-merda que quis levar a tribunal um crítico, sob a espantosa acusação de que ele estava a prejudicar a venda daquelas coisas parecidas com livros que ela perpetra com a regularidade das descargas de esgoto. 

Mais recentemente, a cavacal figura também processou o director de uma revista por ele ter ousado uma comparação – mais uma vez, um mero argumento – que desagradou ao fenómeno de Boliqueime.

Num país em que estar de cócoras é a posição mais apreciada para, paradoxalmente, se subir na vida, o delito de opinião está a tornar-se a norma. Isto porque, até prova em contrário, toda a opinião é um delito.

O recente autoritarismo socratino, com o seu cortejo de compadrios impunes, não veio, como é óbvio, tornar a atmosfera mais respirável.

Vem tudo isto a propósito da queixinha que o jornalista Paulo Chitas resolveu intentar contra Paulo Guinote.

Daqui estendemos o nosso abraço solidário ao Paulo, esperando que este processo termine como outros terminaram: com arquivamento e humilhação do queixinhas.

Um texto certeiro de Mário Carneiro sobre o processo de (não) revogação da ADD

O nosso colega Mário Carneiro publicou, no seu blogue, um texto que consideramos de leitura obrigatória. Estão lá muitas das verdades sobre este lamentável processo de (não) revogação da ADD e são bem identificados alguns dos principais responsáveis pela situação presente:

A farsa avaliativa recebeu autorização para continuar

Este país já perdeu a capacidade de surpreender. As coisas mais néscias acontecem com naturalidade, com regularidade e com impunidade. Nos últimos anos, vivemos e convivemos com a incompetência e com a idiotice, quase diariamente.
Por isso, não causou admiração o anúncio do chumbo, decretado pelo Tribunal Constitucional, da revogação da avaliação docente. Não me pronuncio, como já o disse anteriormente, sobre o acerto ou o desacerto das decisões daquele tribunal, porque não tenho competência para isso — ao contrário de muito opinador, não falo do que não sei —, mas pronuncio-me, isso sim, quanto ao processo que conduziu a esta decisão. E pronuncio-me com particular autoridade, porque é da minha vida profissional e da vida profissional de milhares de professores que se trata.
Porque chegámos a este ponto? Sinteticamente, por três razões:
1.ª Porque temos um Governo tecnicamente incompetente e politicamente irresponsável. Como legisla por impulso cego e arbitário, o que produz é, em regra, mau e com consequências desastrosas. Assim aconteceu com a sua política económica e financeira, assim aconteceu com a sua política educativa, assim aconteceu com o seu modelo de avaliação do desempenho dos professores: um amontoado de arbitrariedade e disformidades, com consequências gravíssimas no destino e no desenvolvimento profissional de milhares de docentes.
2.ª Porque temos um presidente da República sem critério de actuação. Sobre questões da mesma natureza, hoje procede de uma forma, amanhã procede de forma oposta. Umas vezes os critérios políticos sobrepõem-se aos critérios formais, outras vezes é o inverso. Navega sem norte, segue ao sabor do vento, ou ao sabor das suas próprias conveniências. Várias decisões, do Governo ou da Assembleia da República, não foram julgadas pelo PR segundo o mesmo critério com que julgou a revogação da avaliação dos professores. Assim aconteceu, por exemplo, com o recente corte nos salários dos funcionários públicos, que tanta polémica suscitou acerca da sua constitucionalidade. Apesar das fundadas dúvidas publicamente apresentadas por vários especialistas, o PR não dirigiu ao TC qualquer pedido de fiscalização preventiva. Nessa altura não teve pruridos constitucionais. Agora teve-os. Porquê? Não se sabe.
3.º Porque temos um partido político, o PSD — único responsável partidário (para além do PS, como é óbvio) pela situação a que hoje se chegou — que nesta matéria, como em outras, sempre agiu segundo critérios de oportunismo e de cinismo político. Nunca agiu movido por convicções sérias, mas apenas por aleatórios circunstancialismos de natureza eleitoral. Os factos, para a história, são estes:
i) No fim de 2009, o PSD, poucos dias antes da votação da proposta de suspensão do modelo de avaliação, declarava publicamente a sua absoluta concordância com Santana Castilho, que, num debate na Assembleia da República, para o qual tinha sido convidado pelos sociais-democratas, defendeu a sua imediata e imperiosa suspensão;
ii) Chegado o dia da votação, o PSD absteve-se, impedindo que o modelo fosse suspenso. Sem o mínimo de pudor, Aguiar Branco e Pedro Duarte simbolizaram, no Parlamento, o que de mais repulsivo existe em muitos políticos: a falta de seriedade, a falta de palavra;
iii) No ano lectivo 2010/2011, salvo o erro, por duas vezes, o PSD voltou a impedir que o actual modelo de avaliação fosse revogado, não apoiando as propostas legislativas que, nesse sentido, foram apresentadas pelo BE e pelo PCP;
iv) Só em Março deste ano, não se sabe bem por que razões, o PSD decidiu votar a favor da revogação. Tarde e a más horas e, como se vê pelos resultados, de forma incompetente.
Se a mediocridade, a incompetência e a falta de seriedade política residissem apenas no seio do Governo e do PS, já há muito que este modelo de avaliação tinha sido chumbado e já há muito que as escolas e os professores tinham ficado livres de uma farsa que os atinge e indigna. Mas, desgraçadamente, não é assim. A mediocridade, a incompetência e a falta de seriedade política são características bem marcantes dos partidos do denominado bloco central. Não admira, pois, que o país, que a Educação e que, neste caso, os professores estejam confrontados com esta oprobriosa situação.

O crime maior de José Sócrates & Co.

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 20/04/2011

De todos os crimes de lesa-governação praticados por Sócrates y sus muchachos avulta agora um que ultrapassa todos os outros: o facto de Sócrates ter deixado arrastar a crise das contas públicas a um ponto insustentável por mero calculismo político-eleitoralista (pensando que ainda ia a tempo de passar para o PSD o ónus do pedido de “ajuda” ao FMI ou até de ganhar as eleições e de ser ele mesmo, confortado pela reeleição, a efectuar esse pedido).

Que as tesourarias dos vários  Ministérios estejam praticamente vazias deixa este país sem alternativas. E, muito provavelmente, sem alternativa ao próprio FMI. Porque a necessidade de obter liquidez num prazo extremamente curto coloca os responsáveis políticos na necessidade de recorrer à instituição que, nesse prazo e de acordo com as regras em vigor na cena internacional, está em condições de prover a uma urgência tão desesperada.

O maior crime de Sócrates & Co. é ter-nos deixado de pés e mãos atados, prontos para sermos entregues aos predadores internacionais como cordeirinhos. E a ter de engolir as imposições mais degradantes e destruidoras do nível de vida de quem trabalha. Sendo agora muito mais difícil conquistar margem de manobra – algo que requer tempo, que envolve a construção de alianças transnacionais com países em situação similar e que não é, por isso, compatível com o desespero do curto prazo.

Há certamente muitas culpas no cartório e muitos outros culpados. Mas o crime mais imediato e mais imediatamente gravoso tem um rosto: o do pior primeiro-ministro que já nos coube em sorte (proeza difícil num país em que um Pinheiro de Azevedo ocupou esse cargo).

Triste país este… tão mal servido de primeiro ministro (?!) e de jornalistas.

A uma pergunta dos jornalistas da RTP, nitidamente encaixada à força, para não dizer “encomendada” (e sem qualquer tipo de réplica ou contraditório após a resposta), sobre uma eventual decisão futura de Sócrates em retomar o actual modelo de ADD, em caso de vitória nas eleições, o primeiro-ministro respondeu afirmativamente, lamentando a sua revogação (e apelando ao PR para que trave a decisão do Parlamento) com uma frase “interessante” e absolutamente despudorada:

“Um sistema de avaliação consensualizado que estava a entrar na rotina das escolas.” (vídeo aqui.)

Perguntamos:

Consensualizado com quem? Pois… as tais assinaturas. Mas… e os professores, pá?

A entrar na rotina das escolas? E com que custos, pá? A troco de quê, pá?

Tem vergonha, pá!

Nojo absoluto

Posted in Coisas que fazem revolver as entranhas por APEDE em 20/01/2011

Isto que está a acontecer.

Se o que lhe está na base já é política e socialmente revoltante, a forma como está a ser aplicado é, de facto, um nojo absoluto, e mostra bem os abismos de desfaçatez a que este governo consegue descer.

E nós todos? Vamos continuar a comer e a calar, entre uns resmungos sussurrados de impotência?…


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