Estupidez ao quadrado
Depois de um secretário de Estado, vem um ministro:
RELVAS DIZ QUE EMIGRAÇÃO DE JOVENS QUALIFICADOS PODE SER ALGO “EXTREMAMENTE POSITIVO”
Infelizmente para todos nós, estes dois só têm qualificação para estarem no (des)governo…
Um dia alguém olhará para este nosso tempo e perguntará como tanta estupidez criminosa foi possível…
Quando se fizer a história dos tempos sombrios que a Europa atravessa, a perplexidade que hoje sentimos será porventura ainda maior. Perguntar-se-á como foi possível convencer as opiniões públicas a esquecer a verdadeira origem da crise (o desvario dos mercados financeiros, decorrente da sua liberalização e desregulamentação), deixando-a intocada, e acreditar que o problema se encontra no Estado e nas políticas públicas. Perguntar-se-á como foi possível subordinar deliberadamente a Política a esses mesmos mercados e aos seus instáveis humores. Perguntar-se-á como foi possível continuar a acreditar (apesar dos ensinamentos do passado e dos sinais acumulados de fracasso do presente) que uma recessão se ultrapassa atravessando o fogo austeritário. Perguntar-se-á como foi possível esmagar a decisão soberana de cada país em matéria de correcção dos défices públicos (em larga medida agravados pelos impactos económicos da própria crise financeira), impondo-lhes unilateralmente a esgotada cartilha, apresentada como inevitável, de desmantelamento do Estado. Perguntar-se-á como foi possível que lideranças tão medíocres tomassem conta do ideal europeu e desprezassem – olimpicamente – um dos pilares que melhor o identificam: a própria democracia. Perguntar-se-á, enfim, como foi possível deixarmo-nos chegar aqui.
Ler o resto aqui.
Ouviram falar disto?
Esta notícia fez ontem as parangonas de um conhecido jornal diário. Mas, curiosamente, não demos por ela ter sido amplamente comentada ou discutida nas televisões e na blogosfera.
E…
… contudo…
… isto é surreal, isto é perverso, isto é demasiado grave.
Parece, no entanto, que o pessoal já está disposto a tudo e a tudo se verga e com tudo se conforma.
Contradições, oportunismos e o dom da ubiquidade
Nestes últimos anos temos assistido à emergência de um novo tipo de “actores sociais” (para usar um termo pomposo, extraído do jargão sociológico e que fica sempre bem). Esses actores são pessoas que gostam de estar com um pé numa certa posição política, sem, contudo, deixarem de ter o outro pezinho na posição contrária, para o que der e vier. Têm, por isso, o dom da ubiquidade: estão em dois sítios diferentes ao mesmo tempo. Se quisermos ser um bocado mais directos e terra-a-terra, também lhes podemos chamar oportunistas.
O resultado da complicada ginástica que praticam é ficarem condenados a contradições insanáveis. E, por vezes (quase sempre), francamente obscenas.
Aquilo que o Paulo Guinote denuncia aqui e aqui é a ilustração perfeita do que acabámos de referir.
Se, entretanto, puxarmos pela memória, é fácil encontrar outros praticantes do dom da ubiquidade. Por exemplo, aqueles sindicatos que diziam lutar contra o modelo de avaliação do desempenho da ministra trombuda – a que veio antes da beijoqueira -, mas que, em simultâneo, “ofereciam” acções de formação para os professores se tornarem proficientes nesse mesmo modelo.
Que isto da ubiquidade dá pano para mangas!
Sem nobreza
A tremenda humilhação que Fernando Nobre sofreu nesta segunda-feira presta-se a várias leituras. Por um lado, é o desfecho mais do que previsível de uma combinação fatal: um ego, com tanto de desmesurado como de tontinho (o de Nobre), junta-se à imensa dose de parvoeira política de Passos Coelho. Como dizia o outro: “Não habia nexexidade”.
Mas há uma inferência mais deprimente a retirar deste episódio de baixíssima política: o humano não cessa de nos surpreender, e sempre pelas piores razões.
Aqui está um homem, Fernando Nobre, que a maioria de nós se habituou a respeitar e até a admirar perante o trabalho, generoso e empenhado, a que se dedicou na AMI. Durante anos vimos nele uma referência ética, e das mais elevadas. E eis que, de um dia para o outro, Nobre resolve extrair de si a pior versão de si mesmo e projectá-la na praça pública, com um prazer quase perverso em se expor ao opróbio, como se todo o seu empenho estivesse agora em mostrar que o seu passado não foi, afinal, mais do que um logro e que a máscara do humanista escondia o oportunista mais banal.
Podemos rir da triste figura de Nobre. Mas, no fundo, lá muito no fundo, o que sobra é uma enorme tristeza e um sabor a asco.
Censos 2011: um nojo
Vários bloggers estão a denunciar um “detalhe” assaz significativo na forma como os responsáveis pela definição dos conceitos do Censos 2011 entenderam definir a noção de «sem abrigo». Ora vejam a linda prosa que pode ser encontrada aqui:
População sem-abrigo
Considera-se sem-abrigo toda a pessoa que, no momento censitário, se encontra a viver na rua ou outro espaço público como jardins, estações de metro, paragens de autocarro, pontes e viadutos, arcadas de edifícios entre outros, ou aquela que, apesar de pernoitar num centro de acolhimento nocturno (abrigo nocturno) é forçada a passar várias horas do dia num local público. Está nesta última situação a pessoa que, apesar de poder jantar e dormir num abrigo nocturno, é obrigada a sair na manhã seguinte.
Ficam assim excluídos do conceito de pessoa sem-abrigo:
– As pessoas a viverem em edifícios abandonados;
– As pessoas que, não tendo um alojamento que possa ser classificado de residência habitual, no momento censitário estavam presentes em alojamentos colectivos como hospitais, centros de acolhimento com valência residencial, casas de abrigo, etc…
– As pessoas que, apesar de não terem uma residência habitual, no momento censitário se encontravam em alojamentos de amigos ou familiares;
– As pessoas a viverem em abrigos naturais, por exemplo grutas.
E que tal enfiarmos toda a canalha que nos tem (des)governado, mais uma boa parte dos deputados da nacinha, os membros dos conselhos de administração dos bancos portugueses e, já agora, os fulanos do INE que definiram o Censos 2011, na gruta mais funda que possamos encontrar?