O sindicalismo, de novo – 1
Já discorremos aqui, por diversas vezes, sobre a natureza do sindicalismo-que-temos, assinalando a raiz das suas limitações no modelo do «consenso», da «concertação» e da «paz social» (por oposição à «luta de classes»), forjado dentro das «sociedades afluentes» do pós-Segunda Guerra Mundial.
Um artigo no número de Dezembro do Monde Diplomatique analisa a orientação das confederações sindicais francesas no rescaldo da derrota que, em terras de França, o movimento laboral sofreu face à fixação da idade de reforma, não obstante a grande mobilização dos trabalhadores e o surto de greves que a acompanhou. Esse artigo permite levantar algumas questões sobre o sindicalismo em geral, tanto na Europa como no caso específico de Portugal.
A primeira constatação, que nada traz de novo, prende-se com o facto de continuar a ser muito mais fácil mobilizar para as greves os trabalhadores do sector público do que os do sector privado, por razões que são mais ou menos óbvias e que se reportam à situação de precariedade e de fragilidade dos vínculos laborais no segundo desses segmentos do mercado laboral, em contraste com a relativa segurança dos funcionários públicos, ainda que entre estes alastre cada vez mais o número de trabalhadores precários (contratados a termo e, no contexto português, profissionais a recibo verde, etc.). O artigo acima referido afirma, contudo, que o modelo das lutas laborais rebocado pelos trabalhadores do sector público está em vias de esgotamento. As razões para isso são várias, e algumas são comuns aos cenários português e francês: o cansaço de muitos desses trabalhadores, o sentimento de que as greves não conduzem a resultados significativos, a percepção de que os sindicatos permanecem agarrados a formas de luta esclerosadas perante o quadro actual das relações de força entre o Capital e o Trabalho, etc.
Uma coisa é certa: enquanto não se encontrarem estratégias ou meios de atrair para as lutas laborais quantidades expressivas de trabalhadores do sector privado, enquanto as greves, nomeadamente, permanecerem uma forma de luta acessível apenas aos que sentem maior segurança no emprego, vai ser muito difícil travar a escalada de destruição dos direitos e das garantias laborais, porquanto uma parte essencial (e maioritária) dos trabalhadores continuará fora do combate pela defesa desses direitos.
Outra constatação interessante é que, em França como em Portugal, existem grupos no mundo laboral que contestam, de forma cada vez mais visível, o que lhes parece ser a escassa ambição reivindicativa e ofensiva dos sindicatos, sobretudo quando confrontada com a dimensão do ataque actualmente montado contra os direitos sociais. E este é um ponto que merece uma abordagem mais detalhada. Iremos reservá-la para os próximos “posts”.
em 05/12/2010 em 01:36
O que se tem passado em Espanha, a luta dos controladores aéreos contra a privatização, aumento de horas laborais,…, é bem um exemplo do desespero de quem verifica que os Sindicatos se distanciam das repostas que deveriam ser mais céleres e combativas.
em 05/12/2010 em 01:59
Embora, por outro lado, o caso dos controladores aéreos espanhóis também ilustre, na maneira despótica com que o governo reagiu, as fragilidades de certas formas de desobediência civil face ao desequilíbrio de forças, sobretudo quando essas formas – uma greve «selvagem», por exemplo – são desencadeadas em completo isolamento relativamente ao conjunto da sociedade. Um caso para meditar, e que revela, de facto e acima de tudo, desespero.