Razões para apoiar a Manifestação de 29 de Maio

Porque temos sofrido, nos últimos vinte anos de governação, todo um conjunto de opções políticas, no domínio económico-financeiro, que apenas agravaram as insuficiências estruturais de Portugal, criando uma ilusão de desenvolvimento que se vê agora dramaticamente desmentida;

porque essas escolhas desastrosas, de que os Governos foram principais responsáveis, acompanharam o aprofundamento das desigualdades sociais entre os pobres, a classe média e os muito ricos, o aumento exponencial da corrupção e do tráfico de influências, a promiscuidade entre o sistema político-partidário e a esfera dos negócios privados, bem como a reinstauração de monopólios que alimentam os interesses de uns poucos, sem quaisquer vantagens para a economia nacional;

porque o nosso país continua à espera das reformas necessárias no campo da Educação e da Justiça, sem as quais continuaremos na cauda da Europa;

porque os dois principais partidos, que têm partilhado a governação deste país, estão hoje reduzidos a agências de emprego para políticos medíocres e carreiristas, com vergonhosos percursos pessoais, que não os têm, contudo, impedido de ascender a cargos de elevada responsabilidade, nos quais tomam, de forma sempre impune, decisões que hipotecam o futuro de Portugal;

porque são esses políticos, ao serviço de um mundo empresarial dependente de relações promíscuas com o Estado, que agora recorrem à receita invariavelmente seguida, sobrecarregando os trabalhadores com todos os encargos da crise e poupando os que, tendo-a gerado, mais lucraram com ela;

porque nenhuma das gravosas medidas agora impostas irá contribuir para ultrapassarmos, de forma duradoura e sustentada, a crise em que nos mergulharam, prevendo-se, pelo contrário, que a recessão seja acentuada, que o desemprego aumente ainda mais e que o endividamento continue a crescer;

porque toda esta política está desenhada para minar e destruir direitos sociais e laborais conquistados no decurso de décadas de lutas difíceis e duras;

porque é tempo de juntar os trabalhadores de todos os sectores profissionais, públicos e privados, para dizer BASTA;

porque é tempo de unir trabalhadores efectivos e contratados, empregados e desempregados, na certeza de que TODOS se encontram hoje precarizados e de que os direitos de uns são os direitos de TODOS;

porque é tempo de exigirmos uma inversão de políticas que não penalize os que sempre são penalizados e que responsabilize quem tem efectivamente de ser responsabilizado;

a APEDE apela a que TODOS participem na Manifestação do dia 29 de Maio,

sem, contudo, deixar de manifestar o seu profundo descontentamento com a forma como as cúpulas sindicais têm vindo a conduzir o processo de luta dos professores, alienando aquela que deveria ser a sua base de apoio, assinando um acordo com o Ministério que preserva uma série de bloqueios graves na nossa profissão e enredando-se em contradições escandalosas no que toca ao concurso de colocação de professores.

Por isso, vamos estar na Manifestação de 29 de Maio sem abdicarmos da nossa atitude crítica, onde se destaca a exigência de um plano de luta consequente para os professores, com uma auscultação rigorosa às bases e total independência de interesses políticos-partidários.

12 thoughts on “Razões para apoiar a Manifestação de 29 de Maio

  1. Pingback: A Posição Da APEDE Sobre A Manifestação « A Educação do meu Umbigo

  2. Pingback: Dia 29 é já no Sábado « (Re)Flexões

  3. Já estamos todos cansados de que a FENPROF nunca aprenda nada com ninguém.Se ao menos os dirigentes prestassem alguma atenção à realidade que nos pressiona podia ser que a coisa melhorasse. Vem isto a propósito de um pequeno artigo na “Escola” sobre o último congresso onde um docente espanhol (se fosse português nem lá apareciam as suas palavras) afirmou aquilo que é óbvio, que todos sabemos mas que eles teimam em ignorar. Diz esse nosso companheiro que a luta tem de ser baseada nos seguintes pontos: 1º – É necessária a mais ampla UNIDADE para que a acção seja incisiva. 2º – É preciso estabelecer alianças com outros sectores da sociedade. 3º – É preciso AUTONOMIA da luta em relação às lógicas partidárias. Sem isto, meus amigos, escusam de fazer muitos abaixo-assinados e muitas manifs que o trocas-te continuará a rir-se de nós. Por isso é cada vez mais penoso as pessoas envolverem-se nas iniciativas das direcções sindicais. Evidentemente, ninguém gosta de se envolver em lutas que já estão perdidas antes de começarem. Assim, o pessoal vai à manif com a sensação de que aquilo é só folclore e nada se vai conseguir. Não estou contra a manif, mas acho que é preciso muito mais que isso. Organiza-se essa demonstração como se isso fosse um objectivo em si próprio o que é completamente errado. Mas, enfim….

  4. Caro José Manuel,

    É evidente que subscrevo tudo o que dizes. Também considero que a realização de uma manifestação fica muito aquém do que seria necessário para os trabalhadores deste país. Mas… há que dizer que o sindicalismo que temos é também um reflexo dos cidadãos que temos, cidadãos quase sempre auto-demitidos da sua intervenção política, impotentes e passivos (em todos os sentidos da palavra!), embasbacados com o Ronaldo e com as próximas notícias da bola (prepara-te para as bandeirinhas que hão-de flutuar por tudo quanto é sítio quando a merda do Mundial estiver a decorrer), basbaques que só se indignam perante o irrisório e que deixam alegremente que lhes calquem ainda mais a canga que os carrega. Os sindicatos têm culpa disto? Poderiam, quando muito, ser mais activos e interventivos junto dos locais de trabalho, fazer a “agit-prop” para a qual nunca tiveram imaginação (a não ser, talvez, nos anos loucos do PREC). Mas a verdade, meu caro, tem de ser dita: com a massa de que o nosso povinho é feito, com a sua falta de exigência cívica e social, seria quase milagroso que os nossos sindicatos fossem diferentes daquilo que são.

  5. Amigo Mário
    É verdade que o rebanho anda muito manso, para gáudio dos “palhaços” de serviço. Penso que para isso tem contribuído muito a famosa teoria panglossiana da inevitabilidade. Isto tudo é sempre apresentado como inevitável e os media fazem todo o coro possível no mesmo sentido. Até o Bloco já é a favor do TGV por considerar entre outras coisas que vai transportar mercadorias (????). Seria o primeiro país do mundo onde isso viria a acontecer!!! Inclusive o Marçal Grilo veio à TV publicitar um livro onde defende a tese de que a melhoria da qualidade do nosso ensino não só não está refém de nenhumas políticas educativas,(pasme-se) como depende sobretudo do empenhamento de pais, professores e alunos.Acha muito bem a escola a tempo inteiro(deve pensar que ainda trabalhamos pouco???). Acredita tb que as lideranças fortes(leia-se: directores) são fundamentais nas mudanças que as escolas precisam e que os professores são apenas uma simples peça na engrenagem, um parceiro como os pais são outro parceiro. Tudo ao mesmo nível, claro. Com cérebros destes a debitar teorias assim, está-se mesmo a ver onde a coisa vai chegar.
    Acho que precisavamos de um fórum mais amplo, um observatório permanente onde estas e outras questões fossem amplamente debatidas e denunciadas, de modo a que houvesse sempre um ponto de referência, um núcleo central que apontasse sem tibiezas as vias conducentes ao verdadeiro progresso do nosso ensino.Não sei bem como, mas lá que era preciso, isso era…

  6. Só tenho uma coisa a dizer: É melhor ir do que não ir… É possível que a manifestação ajude a gerar a energia colectiva que precisamos para carregar baterias.
    Até Sábado! Abraço a todos.

  7. Pingback: Anónimo

  8. Apesar de ter uma opinião própria sobre o assunto, tentei obter informação sobre a nova questão das novas notações em Geometria, que me está a indignar, já que há manuais para adopção que a usam.
    Gostava de partilhar convosco a opinião da S.P.M. .
    Não deixem de abrir o site www. spm.pt em Novidades( 1.ª barra de fundo azulado), 7.ºtópico.

    Para onde vão as novas gerações vítimas das «Ciências Ocultas da Educação lusa» ????’

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