Por que nos Demarcamos da Greve do dia 4 de Março

COMUNICADO DOS MOVIMENTOS INDEPENDENTES DE PROFESSORES

POR QUE NOS DEMARCAMOS DA GREVE DO DIA 4 DE MARÇO

Os movimentos independentes de professores, APEDE, MUP e PROmova, demarcam-se da greve de professores agendada pelos sindicatos para o próximo dia 4 de Março e, por conseguinte, não farão nenhum apelo à participação dos docentes nesta jornada de luta, sem que tal opção traduza da nossa parte qualquer beliscar da justeza da greve para muitos funcionários públicos ou mesmo qualquer discordância de fundo com a maioria das razões invocadas para a justificação da mesma.

Esta posição, além de exprimir o sentimento geral de desmobilização e de falta de confiança dos professores na capacidade destas direcções sindicais para defenderem as suas reivindicações centrais, mercê da frustração e da indignação com que a maioria dos docentes recebeu o Acordo de Princípios celebrado entre sindicatos e ME, escora-se no conjunto das razões a seguir expostas:

1. ninguém compreende que escassas semanas após a celebração de um Acordo entre sindicatos e ME, que passou para a opinião pública uma mensagem de entendimento e pacificação (mesmo que ilusória), os sindicatos se venham agora envolver na forma de luta mais extrema, ao mesmo tempo que continuam a negociar com o ME, sobretudo quando, no momento oportuno para o fazerem, claudicaram na defesa das principais reivindicações dos professores, nomeadamente o fim deste modelo de avaliação e a recusa do sistema de quotas (porque o fim da divisão da carreira era uma conquista adquirida), permitindo que a negociação se confinasse a uma redefinição das progressões na carreira, por sinal penalizadora para a maioria dos professores;

2. as questões salariais nunca foram o ímpeto da mobilização dos professores e seria um mau sinal que a justíssima luta dos professores pudesse ser confundida, pela opinião pública, com reivindicações de natureza salarial, particularmente num período em que a situação económica da maioria das famílias portuguesas passa por dificuldades, em muitos casos dramáticas;

3. é de todo incompreensível que a reivindicação que mobilizou a esmagadora maioria dos professores, a saber o fim deste modelo de avaliação, a qual persiste quase intacta na filosofia e nas práticas do modelo de avaliação em vigor e dos retoques que se anunciam, tenha sido inexplicavelmente abandonada pelos sindicatos e não constitua, sequer, parte das razões da greve;

4. persiste a dificuldade em explicar aos professores a espantosa contradição entre aceitar, no precipitado e injustificado Acordo de Princípios, os bloqueios no acesso ao 5.º e 7.º escalões e vir agora invocar a contestação desses bloqueios como uma reivindicação que legitima a greve, o que constitui pura hipocrisia ou mero tacticismo sindical à custa dos interesses dos professores;

5. a marcação desta greve foi, mais uma vez, decidida pelas cúpulas sindicais e à revelia da auscultação da vontade dos professores, a que acresce a circunstância de não se vislumbrar nenhuma movimentação significativa a nível dos sindicatos nas escolas para que a greve resulte;

6. os professores sentem que os sindicatos, em sede negocial e pela segunda vez, não interpretaram e não defenderam condignamente as suas principais reivindicações, pelo que prevalece um sentimento, dificilmente superável nos próximos tempos, de que as estruturas sindicais não os representam convenientemente. A ideia que predomina nas escolas é a de que não vale a pena lutar conjuntamente com estas direcções sindicais, pois estas acabam quase sempre por desbaratar o capital de luta alcançado.

Tudo isto torna expectável uma baixíssima adesão à greve por parte dos professores, embora tal não deva ser interpretado como um sinal de apaziguamento ou de satisfação da classe pelas parcas conquistas alcançadas, pelo que se torna fundamental repensar formas, estratégias e acções de luta para o futuro que sejam verdadeiramente unitárias entre sindicatos, movimentos e professores.
Este modelo de avaliação, o sistema de quotas, o actual modelo de gestão, as situações de precariedade de muitos docentes e o desemprego de muitos milhares de outros, deverão mobilizar-nos para a definição e a dinamização de uma convergência de vontades que ausculte e debata formas de luta, antes de as impor.
 
APEDE,
MUP,
PROmova

26 thoughts on “Por que nos Demarcamos da Greve do dia 4 de Março

  1. O comunicado conjunto faz sentido e é bastante esclarecedor. As nossas reivindicações não são, em primeira instância, motivadas por questões salariais. Trata-se de uma situação complexa, sem alterações de fundo, e o ‘timing’ colado à celebração de um acordo torna a questão problemática, tal como afirmam.

  2. Greve – zero
    é do que eles precisam para se porem finos – se é que são capazes disso. Greve zero é também necessária para se saber publicamente que eles não nos representam – só se representam a si próprios.

  3. Apoio e subscrevo tudo o que dizem. Contudo, as questões salariais são muito importantes e se bem que não sejam nem tenham sido o primeiro motivo do descontentamento e desmotivação, devem ser colocadas como passo seguinte. É um facto que estamos mal pagos e devemos dizê-lo com toda a clareza. Mais, entre congelamentos não reposicionamentos e muitas outras questões, temos sidos roubados descaradamente.
    Basta, não quero ser um ruizinho, é-me suficiente ganhar o que preciso para viver com a minha família com um mínimo de dignidade.

  4. Não se pode discordar, conhecendo os factos…
    Uma greve mal preparada, e ainda por cima parecendo de propósito não merece consideração. As cúpulas voltaram as costas às bases, depois do fracasso que expliquem porquê?

  5. assim é que´é, e dizia me o Avelãs, quando lhe disse que o memorando 2 era uma ….., ele disse me que eu não estava a ver bem a dimensão do acordo, cego é ele

  6. Estou em total sintonia com a posição da APEDE.
    As estruturas sindicais não representam os professores.
    Na minha escola está tudo indignado com o ” Acordo de Princípios”, mais conhecido como ” Acordo de interesses mútuos”.

    É muito facil concluir quem são os responsáveis pela desmobilização dos professores.

    Mas… a Chama da Esperança reside sem dúvida alguma nos movimentos e nos blogs de professores.
    Sem eles os dias seriam cinzentos e amorfos.
    Parabéns pelo vosso trabalho em defesa da escola pública.

  7. Estou plenamente de acordo com a APEDE. Os sindicatos que se vão catar. Não terão mais o meu apoio. A culpa da situação é deles que são uns moles ou então pior, traidores! Se tivessem tomates há muito que tinhamos posto o socrates no lugar. Devem de jogar com um pau de dois bicos, penso eu de que…

  8. Realmente, tive e continuo a ter dificuldade em perceber em que medida o acordo assinado entre sindicatos e ME se traduziu ou se virá a traduzir numa mais valia para a Escola e para os professores. Daí ter manifestado a minha incompreensão relativamente a tal facto.
    Neste momento estou completamente siderado com mais um zigue-zague sindical, com a marcação de uma greve e das razões que subjazem à mesma.
    Precisamos efectivamente de uma clarificação para se ficar a saber quem é quem na Educação e quais as verdadeiras razões pelas quais são movidos. Porque acima de tudo, os professores apenas querem mais e melhor Escola. Nada mais os mobiliza!

  9. Sobre a greve do dia 4 de Março

    Comentário meu:

    O que é triste não é a figura que os sindicatos de professores estão, mais uma vez a fazer, no seguimento de indicações partidárias pois claro, no tratamento que fazem das suas bases e dos professores em geral.
    O que é mesmo triste, para mim, foi a atitude tolerante que os movimentos tiveram, na maior parte dos casos em relação aos sindicatos durante os últimos dois anos, defendendo a tese de que o fundamental mesmo era a união de todos os professores custe o que custasse, em vez dos movimentos de professores serem algo de emancipador e de novo em relação justamente aos sindicatos…
    O resultado está à vista.
    E infelizmente estou convencido do seguinte: a recuperação do tempo perdido é impossível!…

  10. A grande maioria dos professores sente-se traída pelo seus sindicatos.
    A grande maioria dos professores não se sente bem representada pelos sindicatos.
    A grande maioria dos professores, como tal, não irá participar em acções levadas a efeito pelos que assinaram o acordo com o ministério da educação deixando de fora aspectos importantes como a contagem integral do tempo de serviço e a transição de estatutos, que prejudica de sobremaneira umas grandes dezenas de milhares de professores que se encontravam na 1.ºmetade da carreira docente.

    Quando os sindicatos mandaram às malvas a exigência da contagem integral do tempo de serviço, pois isso não afecta os docentes mais antigos, perderam a confiança dos professores.

    Ao contrário dos sindicatos, os professores não têm receio da avaliação.
    Ao contrário do que os sindicatos quiseram fazer passar, os professores não têm receio de trabalhar.

    Os professores apenas querem aquilo que qualquer trabalhador quer que é respeito, que é ter o seu tempo de serviço integralmente contado.

    Os sindicatos não defendem bem os direitso dos professores.

  11. Talvez quisessem escrever “por que” e não “porque”.
    Em todo o caso, os argumentos são fortes.
    Lá “não estarei”.

  12. Que grande mixórdia! Reconhecendo, com tristeza, que há professores que preferem ficar a olhar para o ar enquanto auxiliares fecham escolas em lutas que dizem respeito a todos, ainda “gostava de perceber” porque é que para os autores desta peça, lutar contra o congelamento dos salários é coisa que parece mal (o governo do engenheiro aplaude e o PSD e o CDS abstêm-se enquanto isso for suficiente para viabilizar). Quem, como eles, achar que as perdas salariais são problema da plebe, pois que não lute contra isso. Podem ser muitos, mas enganam-se. Quem, como eles, achar que podem continuar a brincar com a nossa aposentação, pois não faça greve. Quem, como eles, achar que a imposição de quotas a toda a administração pública se podia resolver com a 5 de Outubro a vetar uma Lei da AR, que não faça greve. Quem achar que, a começar outros, mais de dois anos de roubo de tempo de serviço a todos os que trabalham na administração pública, também aos professores, morreram com a estúpida expectativa de que um acordo de princípios que teria de ser uma espécie de dia do juízo final, que não faça greve. Mas quem tiver consciência da profundidade dos problemas que enfrentamos, de que a nossa luta não é um vaidoso e solitário acto corporativo, quem der espessura à análise política do que enfrentamos, pois que faça o que deve: faça greve, nesta luta, em conjunto com os outros que trabalham, como nós, para a coisa pública!… Até pela dignidade que nos afrontam, não só por sermos professores, mas por trabalharmos na administração pública, eu faço greve. E, já agora, aos senhores que se entretiveram a redigir isto, mais uma vez entretidos em esvaziar e dar desculpas aos mais frouxos, tenho para mim que os sindicatos não se vêm, ao contrário do que afirmam… Nem eu, sinceramente, com a desmobilização de recorte hedonista que estes senhores vão debitando para a net. Ao que anda esta gente que escreve coisas como se fossem uma espécie de titulares da luta que vão tentando corroer? Vamos mas é à luta a sério que ela tem muitos planos, enormes desafios e, quanto mais põe em causa os fundamentos do sistema, mais contra-vapor! Eu estou a fazer a minha parte; os três subscritores do comunicado voltaram ali a fazer a deles.

  13. Salvo o devido respeito pela posição da APEDE, do PROMOVA e do MUP expressa no comunicado conjunto sobre a greve de amanhã, estou em absoluto desacordo com ela. A história recente do combate dos professores tem mostrado uma capacidade notável de lutar no quadro de iniciativas das direcções sindicais, conseguindo ao mesmo tempo estabelecer uma clara linha de demarcação e de crítica a essas direcções sindicais. Uma greve de professores tem, neste momento, plena justificação pelo enorme descontentamento que existe nas escolas e pelo “acumular de forças” que é nítido existir da parte do Governo/ME. É além disso muito importante que os professores estabeleçam laços firmes com a luta dos demais trabalhadores, e esta é uma oportunidade para o fazer. Os movimentos de professores deveriam, em meu entender, ter aproveitado esta ocasião para protagonizar uma participação autónoma e de combate ao “acordo de princípios” na greve de 4 de Março. Há muitos professores que o vão fazer e que deixaram de contar com o vosso apoio nesta emergência. Esses professores, aliás, não se sentirão amanhã apenas “órfãos” desse vosso apoio, já que é também nítida a aposta das direcções sindicais no fracasso da greve dos professores que elas mesmas convocaram. No fim de contas, tais direcções sindicais apostam no regresso à situação que havia antes da manifestação de 8 de Março, em que elas próprias se arvoravam em donas da luta dos professores, argumentando sempre existir fraca mobilização dos professores nas escolas. Com a posição que a APEDE, o PROMOVA e o MUP agora adoptam, essa estratégia das direcções sindicais acaba por ser reforçada.

  14. Lendo a notícia parece que não foi só o Proença, há um dirigente da CGTP que também foi passear e comer à conta. O que só prova que nem os sindicatos ligam muito a esta greve, que só foi convocada para marcar terreno. Alguém acredita mesmo que uma greve de um dia tem alguma força?

  15. Há frentes da luta dos professores que são comuns às da Função Pública. São-no de tal forma que não hesitei na participação da greve de hoje. Por mais de uma vez, este ou aquele sector da FP sofreu revezes nas suas lutas por se arrastar isolado, permitindo todos nós que seja esse o “estado natural das coisas”. No decurso do ano passado, no processo de resistência dos professores às políticas do ME, nunca se articularam as suas com as dos docentes universitários ou dos enfermeiros ou de qq outro sector que, pelo menos parcialmente, enfrentava idêntica política governamental. O afastar-nos, agora, da luta´da FP é persistir no mesmo erro: é isolarmo-nos, é servir o isolamento dos outros sectores, que, recordemos, foi a táctica que permitiu a violência do ataque de Maria de Lurdes Rodrigues aos professores.
    O Acordo assinado é, de facto, da ordem do inconcebível, um desperdício do esforço de quase dois anos de luta. Pior: a opinião pública crê nos pregadores de serviço, que afiançam que, resolvida a questão dos “titulares”, não há qq outros motivos para que a “vida na Escola” não regresse à “normalidade (?) e, finalmente, os professores comecem a ensinar e as crianças a aprender.
    No entanto, o que nos permite compreender como foi possível a assinatura do Acordo pelos Sindicatos vai em sentido contrário da não adesão à greve de hoje. Primeiro, a suspensão “temporária” da luta dos professores na expectativa da sua resolução pós e pelas eleições, depois, o não cumprimento da “promessa” de um início de um ano lectivo “agitado”. Que fazemos agora? Aguardamos que outros sectores da FP tentem resolver, por nós, problemas que também são nossos? Alimentamos a ilusão nacional de que estamos satirfeitos com o Acordo e que acatamos o que os sindicatos e a ministra acordarem?

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